Um país curioso
O Brasil, ou melhor, parte da população brasileira tem uma visão bastante curiosa do mundo.
Por exemplo, se horrorizam com a guerra na Ucrânia e com seus 5 mil mortos ao longo do ano passado. Realmente é um número alto e o horror tem razão de ser, na medida em que não tem sentido em pleno século 21 o ser humano manter as verdades e práticas da idade média.
Mas o que dizer dos 50 mil assassinatos por ano, que regularmente ceifam a vida, principalmente, de jovens com menos de 25 anos? Pois é, todos os anos 50 mil brasileiros perdem a vida, assassinados pelos motivos mais estúpidos, fúteis e cruéis, abrindo um claro devastador no equilíbrio social. É 10 vezes mais do que os mortos na Ucrânia! Número para ninguém colocar defeito e que deve continuar subindo porque não há, com raras e honrosas exceções, como o Estado de São Paulo, ações concretas para mudar o quadro.
Também ficam horrorizados com a guerra civil na Síria e todas as conflagrações no Oriente Médio. Mais uma vez, o horror está certo. Qual a lógica da intolerância, pelo menos aos olhos ocidentais, que permeia a vida naquela região e cobra um alto preço em vidas?
O problema é que no Brasil mais de 60 mil pessoas morrem e outras 600 mil ficam permanentemente inválidas, todos os anos, por causa dos acidentes de trânsito.
Como pouca gente faz alguma coisa, o número vem subindo regularmente, com todos os custos sociais e econômicos envolvidos.
A lista é bem mais longa, mas estas observações são suficientes para mostrar que o horror com o que acontece no mundo não deveria servir para tapar o sol com a peneira. Antes de olhar pra fora, seria bom fazer a lição de casa. O horror mora ao lado.
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