Sol de inverno
O sol no inverno é completamente diferente das outras estações do ano. Enquanto nas outras ele brilha mais ou menos da mesma forma, no inverno, dependendo da hora, ele adquire características únicas, de cor, intensidade e calor.
Nos dias de frio, é comum o sol brilhar, mas é um brilho atípico, que não esquenta o corpo e traz alguma melancolia à alma. É como se uma tristeza indefinida embaçasse o sol e se espelhasse pelo corpo, cada vez mais funda, até bater na alma e deixá-la fria, como um cubo de gelo, como o olhar do amante que não ama mais a mulher amada.
Mais terrível ainda, como os olhos da mulher que não ama mais o amante ao seu lado.
De manhã cedo, certas manhãs com névoa fazem o sol de inverno perder a força do brilho. Fica opaco, claro, como uma lua cheia nascendo fora de hora. Aos poucos a névoa se desfaz, mas o sol continua com um brilho esmaecido e sua luz não aquece.
As horas passam e continua frio, com o sol brilhando no meio do céu azul. Ele é o dono do dia, da vida, da morte e, no entanto, continua neutro, sonso, sem força para esquentar o dia, sem brilho para pratear o rio, sem calor para aquecer os olhos.
Não sei se é verdade, mas me parece que é mais fácil odiar no inverno. Debaixo do sol quente dos dias de verão, a poesia fica mais próxima da pele, extravasa o corpo, se mistura com o calor do dia. No inverno, as roupas quentes escondem o corpo e fecham a alma.
Tuas mãos frias encontram outras mãos frias e, por causa das roupas não chegam na pele, não passam nem sentem o calor do corpo.
Os dias de inverno são mais difíceis porque são mais frios. Mas eles podem ser bons. Bons e inesquecíveis como um por do sol no mar.