Penteado Mendonça Advocacia

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Crônicas & Artigos

em 06/11/14

Será que é a Índia ou Camboja?

por Antonio Penteado Mendonça

Você vai pela Avenida Paulista, de repente, pá, lá está ele, deitado na frente da janela do banco. Você vira a cara. Afinal, a miséria é feia e fica mais feia ainda quando estampada no corpo de um bêbado ou de um drogado, dormindo na calçada.

Tanto faz, o caminho é pela calçada, não tem jeito, o jeito é tocar em frente, seguir viagem, com o estômago embrulhado, mas com pose de quem não se espanta com nada.

Um quarteirão adiante, pá. La está outro, deitado sob a marquise do prédio de luxo.

E um pouco mais pra frente, outro e depois, dois, lado a lado, dormindo o sono dos justos. A tralha parecendo um monte de lixo, coberta por um cobertor velho, guardado por um cachorro sarnento, amarrado com uma cordinha, que também dorme, encostado num dos corpos.

Parecem mortos, mas estão vivos. A luz do sol te incomoda, mas parece não ter qualquer efeito sobre os dois seres adormecidos.

Simplesmente não é com eles. Nem com os outros com que você cruzou mais pra trás.

Será que essa terra não tem polícia, meu Deus?

Será que a pergunta é essa? Mas será que tem sentido a rua mais emblemática da cidade se transformar em dormitório do povo das ruas?

Então, qual a pergunta certa? Ou será que não tem pergunta certa?

Tanto faz, a polícia tem mais coisa que fazer. E, se não é caso de polícia, a assistência social também tem mais coisa que fazer, até se não estiver fazendo nada, como volta e meia acontece.

Num diálogo imaginário, Monteiro Lobato, anos atrás, colocou um sueco conversando com um brasileiro. Para o sueco era maravilhoso aqui não ter gente com fome. Pelo jeito, não mudou muita coisa.

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