Samba não é só alegria
É curioso, muita gente liga o samba à alegria, mas não é isso que se ouve, quando prestamos atenção na letra da música. Invariavelmente, a letra fala de saudade, de amor desfeito, da mulher que se foi, do homem que troca a mulher por outra.
Quando se pensa nessa alegria toda, que nem sempre existe, o que vem à cabeça é o desfile deslumbrante de uma escola de samba. Acontece que o samba enredo não é o único tipo de samba que existe. Ao contrário, é apenas mais um e, pela própria natureza e pelos fins a que se destina, quem sabe o menos fiel às origens da música.
Eu não sou ninguém comparado ao meu amigo maestro Júlio Medaglia. Ele conhece e entende de música. Eu sou um leigo que gosta de música. Essa diferença abissal faz com que essa crônica possa parecer pretensiosa. Afinal, quem sou eu para dar palpite em terreiro alheio e, ainda por cima, altamente sofisticado, como é o conhecimento musical?
Mas eu não estou entrando em seara desconhecida. Não estou entrando, nem discutindo, nem emitindo opinião sobre algo que eu não conheço, como é o caso da música.
Se não toco nem caixa de fósforos, quem sou eu para dar palpite sobre as particularidades musicais do samba?
Não, o que estou dizendo é que a letra dos sambas em geral é uma letra triste. Que não fala de alegria, mas de saudades, de amores desfeitos, de pobreza e até sofrimento físico, como é o caso de “Maria que, com uma lata d’água na cabeça, pela mão de uma criança, sobe o morro noite e dia”.
Ou tantas músicas de compositores famosos como Noel Rosa, Chico Buarque, Vinícius de Moraes, Caetano Veloso e Oswaldo Montenegro. Nelas, a marca que fica não é a alegria, é a beleza, invariavelmente triste.
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