Rocinantes urbanos
O mundo está em 2017, o automóvel perde espaço, ultrapassado por novos conceitos de locomoção. Os aviões comem os ônibus interestaduais. Os navios crescem de tamanho para transportar cargas e turistas. Os foguetes sobem cada vez mais alto. As naves espaciais saem do sistema solar. Novos aplicativos para celulares destroem regras e sistemas imutáveis e tidos como pétreos.
Ano depois de ano um novo modelo desestabiliza os aparelhos de telefonia. Os telegramas deixaram de ser enviados nos Estados Unidos. O Reino Unido deixa a União Europeia. A direita radical ameaça tomar o poder em nações onde a esquerda e o centro tiveram a vez mas não souberam o que fazer com ela.
Enfim, o que valia até ontem, hoje pode ser mais velho do que os provérbios da Bíblia.
Mas nada disso abala o passo lento e claudicante do cavalo puxando uma carroça velha pelas ruas de São Paulo. Não, ele segue em frente, de cabeça baixa, o pescoço esticado, a cabeça lançada para a frente, dando o máximo de si para puxar a carga colocada na caçamba da carroça.
Não é um, nem dois. São vários espalhados pela cidade. Não se confundem com os cavalos de raça bem alimentados nas baias da Hípica ou do Jóquei.
São animais cansados, com as marcas do tempo e da luta pela vida estampada nas costelas aparecendo sob a pele suja. Bichos evidentemente mal alimentados, maltratados, explorados até o último limite, mas que não entregam o jogo e seguem em frente na triste sina de puxar uma carroça para dar de comer ao dono.
Pasme! Neste mundo cruel e duro, a vida do cavalo até que não é a pior. Tem seres humanos que também puxam carroças!
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