Reações
As palavras deveriam significar a mesma coisa para todo mundo, mas não é assim. Alguém fala pensando uma coisa, o outro ouve entendendo outra. Na visão dos diplomatas, ainda bem que é assim. Se não fosse, não teriam emprego. Já a humanidade padece com o problema desde que o ser humano parou de grunhir e passou a falar. A regra é não nos entendermos.
É fascinante acompanhar as reações dos ouvintes. Em 29 anos de crônicas já vi de tudo, já escutei de tudo, do mais óbvio ao mais inesperado.
O que chama a atenção nos últimos tempos é a radicalização. Radicalização sobre posições políticas, futebol e religião são velhas formas de se arrumar encrenca. Mas agora a coisa está muito mais profunda.
O que deveria ser uma opinião diferente sobre um tema banal se transforma em ódio, em aversão absoluta, em agressão de todos os tipos.
Confesso que assusta. Não estou falando do patrulhamento ideológico do PT, nem da reação dos inocentes úteis de plantão que são usados como bucha de canhão por gente de todos os lados.
Estou falando do ouvinte padrão, um cidadão de bom senso, com discernimento, posição sobre as coisas e capacidade de julgar e escolher de acordo com suas convicções, modo de vida, forma de encarar o mundo.
A intolerância tem aumentado e se tornado rotina nos comentários que eu recebo sobre os temas das crônicas. Tanto faz o tema. De “não mate macaco porque ele não transmite febre amarela” a “parabéns aos funcionários do Hospital Sírio Libanês pela honestidade e pela devolução do relógio que minha mulher esqueceu no apartamento” – temas sem conotação política –, além dos comentários normais, cresce o número de reações violentas com agressões, desacato, palavrões e o mais que se imaginar. Algo está errado e assusta. O ódio nunca construiu nada e, até agora, nunca foi uma característica dos brasileiros.
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