Racismo
Muitos anos atrás, quando eu morava na Alemanha um professor de Hamburgo perguntou se eu era branco. Estendi o braço e mostrei minha pele mais escura que a de qualquer alemão mesmo nos meses de inverno.
Como eu posso ser completamente branco se, durante os 200 primeiros anos, as mulheres que habitavam São Paulo eram, em sua imensa maioria, índias?
Até o final do século 18, a língua falada nas casas paulistas era a Língua Geral, a língua das mulheres. Que europeia se disporia a cruzar o Atlântico para vir morar numa vila de boca de sertão? E as que o faziam, seguiam para o Rio de Janeiro, Salvador ou Recife, muito antes de pensarem em São Paulo.
Mas meus outros costados, o lado europeu, é português e espanhol. Durante séculos a Península Ibérica foi dominada pelos Mouros, semitas e negros, que conquistaram e se instalaram na região. Para não falar nos cristãos novos, que vieram para o Brasil no período colonial.
Assim, entre secos e molhados, se sou ariano, tenho também raízes morenas. E quantos e quantos ao redor do mundo são tão misturados como eu?
Falar em racismo no século 21 é estúpido. É olhar em volta para ver que as antigas e trágicas verdades de superioridade racial do banco, nos séculos 19 e 20, nunca deram bons resultados. Nem fizeram bem.
Gaúchos racistas. Argentinos racistas. Paulistas racistas. Espanhóis racistas. Só rindo de tanta estupidez. Racista com base no quê, se seus povos são o caldo de um imenso caldeirão misturando gente de todas as origens, faz muitos séculos?
Fora isso, será que alguém é melhor por causa da cor, da religião ou do time de futebol? Quem acredita que é, com certeza não é!
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