Prefeitos voadores
Confesso que voei pouco de helicóptero. Ao longo de minha vida mal e mal conto dez voos. O primeiro foi num acampamento do CPOR. Helicóptero militar, de porta aberta, quase fingindo que éramos o Rambo.
Depois sobrevoei São Paulo algumas vezes, mostrando a cidade para autoridades estrangeiras. E uma vez fiz um voo panorâmico sobre as cataratas do Iguaçu.
Além dessas, me lembro de um voo num Robson 44 e encerro as atividades na área. Em compensação, voei de dirigível uma manhã inteira, sobrevoando São Paulo a baixa velocidade e rezando para não passar em cima de favelas, porque a turma metia bala no dirigível, imaginando que a tripulação passava informações para a polícia.
Numa cidade como São Paulo voar de helicóptero é para os abençoados pela sorte. Para os muito ricos, os grandes empresários e os altos executivos.
É a alternativa para quem pode mais e chora menos não ficar preso no trânsito nosso de cada dia, ainda mais depois que decidiram pintar 300 quilômetros de faixas exclusivas para ônibus.
O nó está dado e pelo jeito é irreversível, da mesma forma que os chifres do inferno, nascidos do chão com a missão nem sempre executada de informar a hora certa para quem está parado nas ruas.
Seja como for, dizem que existem tormentos piores. Que os bombardeios de Coventry, Dresden, Hiroshima e Nagasaki não se comparam em termos de barbaridade.
O que é curioso é que, além dos homens poderosos e ricos, um dos responsáveis pelo caos, em vez de dar o exemplo e ficar nas ruas, também adotou o helicóptero como meio de transporte. Ainda bem que às vezes Deus olha por nós e a máquina quebra.
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