Os sabiás
Por que os sabiás tomaram São Paulo de assalto? Muito embora existam várias teorias a respeito – e eu não contesto nenhuma, porque há mais coisas entre o céu e a terra do que o voo das aves – um fato, entre tantos que podem ser invocados, é definitivo: a vida na cidade é muito mais fácil do que a vida no campo ou na floresta.
Para quem leva jeito e não tem medo de se virar, a cidade é uma permanente fonte de fartura, seja como for, onde for e para o quê for. Pode mais quem chora menos. Se a população de moradores de rua aumentou nos últimos anos, incentivada pela Prefeitura, por que os sabiás também não viriam para cá, atrás de comida fácil, proteção e casa de graça?
Quem conhece as matas sabe que a vida na natureza é dura. Que o alimento nem sempre é fácil, que a chuva molha o ninho, que os predadores estão sempre alertas, esperando uma chance para dar o bote e devorar a presa, no caso, os sabiás, seus ovos e seus filhotes.
Na cidade as coisas são mais fáceis. Em primeiro lugar, tem menos inimigos naturais. Gaviões, cobras e outros predadores têm mais resistência para serem aceitos nas áreas urbanas, ou descobriram outras fontes de alimento, ou ainda não aprenderam o caminho.
Por isso, os sabiás nadam de braçada, ajudados pela iluminação da metrópole, que lhes permite iniciar a cantoria de acasalamento quando ainda é noite fechada.
Com ninhos pouco ameaçados, comida nas ruas, nos sacos de lixo e nas tigelas dos gatos e cachorros, fica fácil procriar e ver a prole crescer. Fica fácil viver, até porque um eventual gavião que tenha se mudado para a cidade prefere furar os sacos de lixo a voar atrás de sabiás desesperados, lutando pela vida. É verdade, tem quem se queixe da vida em São Paulo, mas com certeza entre eles não estão os sabiás.
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