Os ipês amarelos
Os ipês amarelos seguem os ipês roxos na ordem da florada dos ipês. Ordem que predomina, mas não é impositiva, tanto que já tem ipê branco querendo dar as caras e os ipês rosa estão como quem quer chegar, presos por âncora leve, pronta para desgarrar.
Nesse mundão de Deus pode mais quem chora menos. Ou pula, ou pula. Não tem plano B para as coisas funcionarem de outro jeito. Agora é o momento dos ipês amarelos. Eles sabem disso e não estão com vontade de dividir o espaço.
Tanto faz se o rival é ipê ou não é ipê, se é azaleia florindo atrasada, os ipês amarelos não estão nem aí. O negócio deles é florir, com toda a força de suas flores tomando a cena.
A florada dos ipês amarelos tem um toque nostálgico. Fala do passado, quando os paulistas entraram mato a dentro para arrancar das selvas metade do território brasileiro.
Antes o Brasil era assim, depois o Brasil ficou como é. No meio do caminho, os bandeirantes deixaram sua marca no solo generoso da nação multiplicada. A florada dos ipês amarelos fala dessa saga ou, pelo menos, resgata um pedaço dela, na cor das flores balançando no vento.
O ciclo das bandeiras se divide em três grandes momentos. A descida dos índios, a cata do ouro e as monções, que também procuravam ouro, mas tinham como meio de transporte os canoões que demandavam Cuiabá.
A florada dos ipês amarelos fala da saga dos bandeirantes abrindo Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso, arrancando dos rios o metal amarelo que financiou a Revolução Industrial Inglesa.
Fala de um Brasil em que São Paulo encampava os estados do sul, Minas Gerais e Mato Grosso. Fala da aventura de se embrenhar na mata, sem certeza de regresso, atrás do sonho que paga o preço da vida.
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