O trânsito perto do natal
Se é verdade que as festas de final de ano existem para criar um universo de paz e boa vontade entre os seres humanos, quando desenvolveram o projeto, não pensaram no trânsito.
É verdade que, há dois mil anos, quando começaram a pensar se seria uma boa ideia, não existiam automóveis, ônibus, caminhões, motos e bicicletas, parte dos quais dirigidos por pessoas sem muita noção das coisas ou pelo menos do que significa respeito ao próximo e vida em sociedade.
Diz a lenda que por muitos séculos funcionou. Que em dezembro as pessoas se esqueciam das mazelas do mundo, da falta de tudo que pautava suas rotinas, da fome que cutucava suas barrigas, dos dentes podres que competiam para ver quem doía mais, com as juntas atacadas pelos reumatismos e atrites, com a sujeira que era o padrão e o mais que transformava a vida na Terra nos primeiros mil anos de purgatório.
O solstício pagava os preços, eleito para ser o momento da consagração das lições do Deus vivo. Do ideal que prometia tudo de bom, limpo, honesto e puro que embasava a ideia de que o ser humano era feito à imagem e semelhança de Deus.
Mas o mundo evoluiu. Ou não – tem quem ache que vamos firmes de macha-ré, rumo à pré-história, quando comer carne e beber cerveja matava a fome e fazia as criaturas saudáveis.
Tanto faz, no século 20 as coisas tomaram outro rumo. O que era deixou de ser, o vil metal corrompeu as pessoas, o petróleo poluiu as mentes e o resultado está na violência, falta de paciência e egoísmo que nestes dias fazem o próximo querer matar o próximo, em nome do amor ao próximo, da felicidade e do direito de cada um fazer o que quiser, como quiser e depois, penitentemente, comemorar a boa vontade, o amor e a paz entre os homens.
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