O primeiro pombo a gente nunca esquece
A vida na cidade grande é mais fácil do que nas matas e nos campos. Até aí, estamos todos de acordo, seres humanos e não humanos. A prova é o casal de micos que decidiu morar nas árvores em volta da minha casa e que agora constituiu família, com a chegada de um macaquinho.
Entre as formas de vida que não discutem as vantagens urbanas estão pombos, ratos e sabiás.
Pombos autóctones e não autóctones, brasileiros e imigrantes. Pombos grandes e pequenos, pombos de todos os tipos e de todas as cores.
Ratos grandes, muito grandes, não tão grandes e pequenos. Todos desagradáveis, transmissores de doenças, capazes de roerem o motor de um automóvel com a tranquilidade dos anjos depois dos banquetes no céu.
Sabiás, na maioria das vezes laranjeira, o que não quer dizer que outros da espécie também não deem as caras nos jardins, praças e parques da cidade.
Além deles, temos rolinhas e capivaras, onças e beija-flores, gambás e almas-de-gato. Para não falar nos gaviões, que abrem os sacos de lixo a bicadas, nos lagartos e nos quero-quero que passeiam despreocupados pela Cidade Universitária.
Mas viver é complicado e cada um faz o que pode. Por conta disso, os sabiás, faz tempo, atacam a ração e a tigela de água dos cachorros. Lá em casa não é exceção. Primeiro o Milho Verde, depois o Pamonha e agora a Clotilde, se vingam deles, pegando-os em pleno voo.
Mas a Clotilde inovou. Como alguns pombos decidiram tomar banho na sua tigela e sujam a água, ela estava querendo dar o troco. Outro dia conseguiu. Quando chegamos de volta do almoço de domingo, a prova estava lá, nas penas espalhadas pelo jardim. A Clotilde tinha pego seu primeiro pombo e, pelo visto, gostou.
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