O asfalto da rua Atlântica

Quem conhece sabe, a Rua Atlântica é das ruas simpáticas de São Paulo. Ou poderia ser, se não estivesse complemente detonada. A Rua Atlântica é uma rua do Jardim América, que vai da Estados Unidos até a Rua Groenlândia. Arborizada com lindas tipuanas, ela faria a diferença, se tivesse sido preservada com um mínimo de carinho.

Com casas grandes dos dois lados, muitas delas com arquitetura imponente, a rua teria tudo para ser tranquila, não fosse o trânsito da cidade buscar incessantemente caminhos para escapar dos congestionamentos infernais que tolhem nossa capacidade constitucional de ir e vir.

Algum tempo atrás, a Rua Atlântica parecia em guerra, e guerra séria, a luta por Estalingrado, a Batalha de Berlim, com gente abrindo trincheiras enormes, sujando em volta, jogando terra e lama, quem sabe para camuflá-la e evitar ataques aéreos ou outra coisa no gênero.

Trouxeram máquinas para cavar mais rápido e mais fundo, com tapumes mal instalados protegendo as obras dos olhares indiscretos, provavelmente dos agentes secretos das potências estrangeiras interessadas na tecnologia nacional para abrir trincheiras antitanques.

Impressionava. Não fosse a dimensão do projeto e a contrapartida da imundice a que sujeitaram os moradores da rua.

Outro dia eu passei pela Rua Atlântica. Já não tem as trincheiras, nem os tapumes, nem a sujeira para camuflar a área.

Em compensação, poucas vezes vi um trabalho tão mal feito como o que fizeram lá. A avenida Ordem e Progresso é um primor perto da falta de cuidado, do desleixo, da falta de profissionalismo encontrado no asfaltamento da Rua Atlântica. O que fizeram é uma vergonha. Eu não sei quem foi o responsável, mas o asfalto que entregaram é perfeito para pistas de teste de carros de combate fora de estrada.