Não subestime o ser humano
O bom de se ler Guimarães Rosa é que, além do texto rico, da história deliciosa, ele sempre nos passa alguma lição prática para as rotinas da vida. É assim que ele nos ensina de forma muito simples, muito singela, na batida do seu burrinho pedrês, que todo mundo é de alguma forma inteligente.
Pode parecer óbvio, mas quantas vezes nós achamos que alguém é limitado e, de repente, sem aviso, essa pessoa nos dá um susto, fazendo o que nunca imaginávamos que fosse capaz?
Tem quem tem talento para uma coisa. Outro tem para outra. E um terceiro para uma terceira, sucessivamente, até o penúltimo ser humano, porque o último, para confirmar a regra, não tem conserto.
Tanto faz as lições da vida, o ritmo das coisas, os exemplos chapados, as lições, as provas. Para esses, que Nelson Rodrigues chamava de idiotas da objetividade, não tem jeito, o mundo é como ele quer ver, ainda que o mundo seja mais vasto e muito mais colorido.
Ainda que seu rumo seja o contrário do curso do rio, ainda que ele tente escalar as cachoeiras. Tanto faz. Segue em frente, impávido colosso, como se o óbvio não fosse óbvio ou a lógica estivesse invertida apenas para machucá-lo ou dar-lhe razão.
Um gênio disse que o Garrincha jamais jogaria futebol. Outro, que seu QI era 3. Poucos jogadores na história do futebol se comparam a Garrincha, com QI 3 e uma incapacidade absoluta para jogar futebol.
Todo mundo é de alguma forma inteligente. Ou quase todo mundo. O último da lista, esse ninguém conserta.
Durante os últimos 13 anos, o Brasil foi dos últimos da lista. Abusamos dos desatinos, incompetências, mas, acima de tudo, abusamos do direito de nos deixarmos roubar. Parece que estamos tomando jeito, que voltamos a ser de alguma forma inteligentes. Se Deus quiser, desta vez dá certo.
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