Moto perpétuo
Carnaval é festa que começa, continua, continua, continua até que acaba. Mas o processo é longo. São quatro dias em que vale tudo, inclusive com o OK da Igreja, que inventou a festa mais de mil anos atrás para servir de contraponto para os rigores da quaresma, época em que os cristãos faziam severas penitências para a purificação da alma e do corpo, durante quarenta dias, até a Páscoa.
Se não tivesse o carnaval, ninguém aguentava. Por isso é fácil lembrar do carnaval de Veneza, além das festas de rua, incrivelmente brutas nas cidades europeias em geral. Era assim que o povo se preparava para os rigores que vinham em seguida, com a promessa do inferno pesando forte em cima de cada um.
Hoje, não. Hoje, carnaval é carnaval. Não tem mais nada com nada, até porque pouca gente ainda respeita a quaresma e, mesmo assim, no máximo faz uma dietinha de peixe nas sextas-feiras.
O resto é diversão. Maluquice. Entrar de cabeça em todas as paradas. Topar as topadas. Gritar alto, cantar, sussurrar, abraçar, beijar, etc., etc., etc.
Porque o amanhã a Deus pertence. Agora, o meu é meu e não tem problema, banco qualquer parada, com todo o respeito e consideração.
Cada um sabe de si. O começo começa na sexta-feira. Já o final, depende de onde, tem hora marcada: o meio dia da quarta-feira de cinzas. Mas não é unanimidade. Tem lugar que a festa se estende, vai longe, por vários dias, além do marcado no calendário.
Hoje é hoje e hoje é dia de festa. De manhã até de noite, de manhã até de noite, até a festa acabar ou acabarem comigo, num mundo cheio de amor pra dar.
Curte mais quem dá mais. Por isso, vamos que vamos! Milhares de Colombinas esperam seus Pierrôs.
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