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Crônicas & Artigos

em 20/06/14

Machado de Assis traduzido

por Antonio Penteado Mendonça

Confesso que ainda estou assustado com o projeto de tradução de Machado de Assis para um português mais moderno. Eu não sei o que seria um português mais moderno e fico apavorado quando imagino o que isso possa ser, já que não me parece crível alguém ter a pretensão de interpretar o maior autor brasileiro, baseado em critérios subjetivos e com certeza com bem menos talento.

O que vai sair dessa fornada não está claro para ninguém, mas tem tudo para o pudim desandar.

Imagine se a tradutora de Machado decide que Bentinho deve se chamar Little B? E Escobar se transforme em MC Escova? Enquanto Capitu passa a dançar nos bailes funks, atendendo pelo nome de guerra de “Morena da Ressaca”?

Impossível? Por quê? Quem disse que não é por esse lado? Até porque, de outro jeito ou para outro público, não tem sentido traduzir Machado de Assis.

Espera-se que as pessoas alfabetizadas em português entendam o que o genial escritor escreveu. Quem não é alfabetizado não vai entender nada, traduzido ou não. Não vai perceber a ironia, a graça, a tragédia sútil, envolvidas na trama, dando corpo à história.

Esses, lamentavelmente, são o fruto terrível da escola brasileira. Escola que não ensina, não forma, não tem norte, a não ser a politização imbecil de jovens que sairão das salas de aula sem saber o mínimo para competir no mundo moderno.

É triste, mas, mais do que triste, é apavorante pensar que o governo apoia uma barbaridade dessa ordem. Quem precisa tradução para entender Machado de Assis é melhor não ler o grande escritor. Com certeza uma tradução medíocre não vai tornar mais clara a sua obra.

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