Itatibense de força e luz
Quando eu era menino, na fazenda da família, cada vez que o céu ficava um pouco mais cinza, as pessoas começavam a se mexer. Arrumavam as velas e os lampiões porque era quase certo que em seguida faltaria energia elétrica.
Com os primeiros pingos de chuva, a quase certeza se convertia em certeza e no começo da noite os lampiões e as velas eram acesos, substituindo as lâmpadas que insistiam em ficar apagadas.
A energia elétrica era fornecida por uma companhia chamada Itatibense. Como a distribuição da “força”, como se dizia na época, era regional, levou anos até conseguirem mudar a distribuidora. Quando a luz da Light chegou, ficou fácil de entender o que era a felicidade do paraíso.
Com o tempo, comecei a viajar pelo mundo e quando morei na Alemanha, no inverno de 1978, uma tempestade se abateu sobre Hamburgo. A temperatura caiu para 20 e tantos graus negativos; trens e metrô pararam; morreu gente de frio, presa nas estradas bloqueadas; e nas ruas com montanhas de neve congelada só transitavam tratores e veículos militares.
O surpreendente para mim é que em nenhum momento faltou energia elétrica. Foi quando eu descobri que a luz da Light era apenas o purgatório, que nos países ricos o paraíso era muito mais exigente e que a felicidade da energia praticamente constante era apenas uma obrigação do poder público.
Agora, anos depois, tenho a sensação de que invariavelmente estou numa viagem ao passado. Que retorno pra fazenda na época da Itatibense. O duro é que não temos mais o hábito dos lampiões. Não fosse um 0800, que quando funciona, mente, eu teria certeza de que voltei no tempo. Ah, que saudades da luz da Light!
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