Iogurte no café da manhã
É interessante como de repente, sem aviso, um cheiro ou um gosto nos remete para momentos passados, muitos deles esquecidos, ou quase, e por isso é uma surpresa quando chegam de volta.
Rotinas do cotidiano, o café da manhã, lavar a louça, fazer a cama, momentos sem razão para se perpetuar, mas que, num gole de café, no cheiro de pão quente, na chuva caindo, retornam inesperadamente e trazem consigo lembranças boas de tempos passados e de outras histórias, quando a vida era diferente e ser herói ainda era fácil.
Outro dia, depois de uma colherada de iogurte de frutas vermelhas, o café da manhã dos fins de semana no apartamento do Guarujá, mais de 45 anos atrás, voltou intensamente, como se o Mando, a Kitty e eu estivéssemos na cozinha, com um iogurte de morango ou de pêssego e um sanduíche, tomando café da manhã para sairmos para alguma praia, com as pranchas de surf no rack laranja do meu Opala 2500 verde amazonas.
Outros tempos de um outro Brasil, que ainda não tinha a Rio/Santos e a estrada para São Sebastião. Depois da Bertioga, era de terra ou seguia pelas praias, atravessando rios e pontes rudimentares, a maioria de madeira e sem parapeito.
Era outro mundo. São Lourenço não sonhava com a Riviera. A Barra do Una tinha meia dúzia de casas, Juqueí, outras tantas. A praia Preta, duas. A barra do Saí, outra meia dúzia e assim por diante.
O dia era nosso, a vida era nossa e a felicidade e a certeza das contas pagas faziam parte do cenário, nas ondas quebrando nas areias desertas.
Quantos e quantos fins de semana o Mando, a Kitty e eu tomamos iogurte antes de sair do apartamento para conquistar a areia, o mar e o sol, que por direito eram nossos!
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