Homenagem sincera
Em momento de rara sensibilidade, a Prefeitura de São Paulo decidiu homenagear, neste 25 de janeiro, o padre Leonardo Nunes e seus poucos mais de dez jesuítas que, em meados de 1500, subiram a Serra de Paranapiacaba para lecionarem no Planalto de Piratininga, convertendo gentios e alfabetizando portugueses.
Imaginem a vida desses bravos que deixaram para trás a civilização europeia e se atiraram de peito aberto à missão de conquistar um novo continente e, dentro dele, alargar até o possível as fronteiras portuguesas.
Quando chegaram, São Paulo não existia. A vila era Santo André da Borda do Campo, terra de João Ramalho, que abriu as distâncias do outro lado da serra para as palavras do Evangelho.
Vila tosca, de poucas casas, mais ocas indígenas do que habitações europeias, os caminhos em volta não passavam de picadas esburacadas tomadas pelo mato, ligando os vários pontos, habitados muito mais por silvícolas do que por brancos, ao caminho do Peabiru, que, vindo do interior, descia a serra na direção de São Vicente.
Rude o entorno, difícil a vida, justa a homenagem que, 500 anos depois, a administração da metrópole presta aos primeiros desbravadores, comandados pelo Abaré-bebê, o Padre Voador, como Leonardo Nunes era conhecido entre os tupis.
De forma deliberadamente singela, tendo por parâmetro a tosca escola inaugurada em 25 de janeiro de 1554, a administração municipal decidiu deixar os buracos, as crateras e o mato tomarem conta da cidade.
Poucas vezes em muitos séculos de absoluto desleixo São Paulo esteve tão próxima de suas origens. Mato, crateras e buracos, aliados às chuvas de verão que diariamente inundam as antigas várzeas, refazem o cenário original, trazendo para 2015 a realidade de 1554.
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