É preciso cuidado com a cidade
Ninguém discute, uma cidade como São Paulo é uma máquina de criar ruínas, de comer o vizinho, de entrar por buracos inimagináveis e subir morros impossíveis. Em que lugar do mundo se tem uma ladeira feito a Ministro Rocha Azevedo? Pois é, São Paulo tem ela e tem outras, algumas até com ciclovias marcadas no asfalto.
Quanto aos buracos, o que é a Vila Pantanal e mais meia dúzia de áreas inteiras construídas abaixo do nível do leito do rio? O que são as várzeas que deram origem aos melhores bairros da cidade senão brejos aterrados e que, se bobear, ainda inundam?
Foi assim e é assim que São Paulo segue em frente, indiferente aos estragos antes, durante e depois. Não tem muro, não tem barreira que a segure, que a reprima dentro de espaços lógicos. São Paulo não tem lógica.
Mas é preciso cuidado para não destruir o que temos de bom, de qualidade de vida. Não é possível modificar bairros que foram pensados para ser de um jeito em nome do progresso ou da ganância ilimitada. Eles são, em grande parte, os pulmões da cidade. São suas áreas verdes e sua baixa densidade populacional que permitem São Paulo respirar.
Permitir a construção de edifícios altos no meio de suas ruas estreitas é ir na contramão do bom senso. É ferir de morte o futuro da metrópole. É comprar passagem para um futuro tão tenebroso como os dias de poluição nas cidades da China e da Índia.
Nós não precisamos disso. A legislação urbana em vigor é ruim e foi pensada tolamente em cima de conceitos políticos, em vez de levar em conta a realidade. Então ela precisa ser revista.
Mas a revisão tem que ser feita para melhorar a qualidade de vida da população e não para permitir a construção de novos prédios onde não há infraestrutura para recebê-los, como aconteceu na região da Berrini.
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