De manhã cedo, num domingo
Cheiro de pão saindo da chaminé da padaria. Poucos cheiros são mais humanos e gostosos que cheiro de pão quente, ainda mais numa manhã fria de domingo, com o céu azul de um dia de inverno.
Cheiro de pão quente me lembra eu menino, na fazenda de Louveira, descendo da sede para a colônia para tomar café da manhã na casa do Nego, o cocheiro, com quem depois eu iria buscar os cavalos no pasto.
Dona Helena, a mãe do Nego, todos os dias fazia pão no forno no quintal atrás da casa. Até hoje a lembrança do pão saído do forno, untado com bastante manteiga, e a caneca de café com leite fumegando na manhã fria me traz uma sensação boa, de proteção e segurança, como se a cerca de arame que fechava as divisas da fazenda tivesse o poder de espantar os perigos da vida e deixasse o feio do mundo do outro lado, incapaz de me atingir ou fazer mal.
Mas o cheiro de pão quente também me carrega para os acampamentos do CPOR, na Candinha, em Barueri, em Minas Gerais, todos com manhãs frias e úmidas, molhadas de orvalho.
A fila do rancho, o soldado enchendo a caneca de metal com café com leite bem quente e outro entregando o pão com margarina. É uma lembrança amiga, de um tempo bom, recordado todos os anos nos encontros com meus colegas de Artilharia, turma de 1971.
Nenhum alimento é tão humano ou aproxima mais as pessoas. Nenhum alimento é tão bom, nem tão gostoso, especialmente nas manhãs de inverno, acompanhado de café com leite ou chocolate quente.
Chocolate quente é a lembrança de outro café da manhã de muito tempo atrás, em Cananéia, antes de sairmos para pescar.
Recordações de pessoas, situações e lugares. Quentes feito pão saído do forno, quentes como as lembranças dos bons momento da vida.
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