Cidra Cereser e Rabo de Galo
Em tempos de coquetéis altamente sofisticados, onde o velho e bom Dry Martini não tem vez, competindo com coisas coloridas, frutas vermelhas, folhas de hortelã e o mais que a imaginação humana criar, incluídas especiarias das estepes da Ucrânia, da Tundra da Sibéria e do Deserto de Gobi, para serem misturadas com delícias da Camargue, óleo de dendê, água de coco, sola de sandália Havaiana, tudo na busca do prazer perfeito que dá graça pra vida, eu quero voltar no tempo para fazer uma justíssima homenagem.
Homenagem que ganha relevo no inverno porque o homenageado tinha o dom de esquentar o corpo e a alma, até quando o frio baixava bravo, atrás da neblina densa que cobria os morros e chegava na estrada de terra por onde os cavalos e a charrete voltavam para a fazenda.
Antes de declinar o nome do homenageado é importante contextualizar a cena. Imagine o Brasil na época em que boa parte do uísque escocês era fabricado no Paraguai, Drurys era bebível, Old Eight fazia a diferença e Mansion House e King’s Archer eram nomes aceitos como bons até por quem tinha dinheiro para ter seu contrabandista e comprar uísque importado, sem muita certeza da origem.
Nos réveillons, champanhe Peterlongo era matéria prima de primeira e, se não tivesse, a boa cidra Cereser dava conta da festa. O problema era o dia seguinte.
Mas, voltando ao coquetel, da mesma forma que a Cidra Cereser, parte era fabricada em Jundiaí. Fogo Paulista engrossava a mistura, na proporção que o garçom julgasse conveniente, de acordo com o jeito do freguês. A outra metade era conhaque Palinha, o conhaque das multidões. O nome da bomba é Rabo de Galo. O bom e honesto Rabo de Galo, que, na alegria e na tristeza, esquentou o peito e a alma de muito brasileiro.
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