Buracos e mais buracos
Depois de infestar a cidade com faixas vermelhas da pior qualidade, pintadas e despintadas com urucum boliviano, a Prefeitura está firmemente disposta a mudar os critérios para os cartões postais de São Paulo.
Se tradicionalmente o que sempre se vendeu foram fotos de prédios, parques, praças e ruas, agora a ideia passa pelas fotos mais dinâmicas, criadas pela velocidade dos celulares, de suas câmeras e filmadoras.
Não há mais lugar para um prédio parado, estático na paisagem, como coisa morta ou peça de arqueologia, seja lá o que isso signifique para um aluno do segundo grau de escola brasileira.
Aprimorando o conceito, a Prefeitura decidiu deixar a cidade ficar completamente esburacada. Em primeiro lugar, os buracos dão sensação de velocidade, algo que, na prática, foi reduzido em nome da mais deslavada indústria de multas de que se tem notícia na América do Sul, o que não é pouco, levando em conta Venezuela e outros absurdos regionais.
Em segundo, os buracos servem para dar emoção. Como cada um é de um tipo, inclinado para um lado e com profundidade diferente, cair nele pode ser uma experiência fantástica, quase como sair da atmosfera, viajando numa nave na velocidade da luz.
Mas há muito mais que um bom buraco pode fazer. Pode gerar empregos na faina inútil de tentar tapá-los. Como a ideia não é essa, mas, sim, que eles retornem incessantemente, a qualidade do material empregado é péssima. Isso tem outra vantagem. Aumenta a produtividade e gera mais empregos, numa cadeia virtuosa onde o único prejudicado é o cidadão que paga impostos e tem seu carro destruído sistematicamente.
Mas aqui, mais uma vez, o lado social prevalece. Destruir carros significa mais empregos para mecânicos, borracheiros e motoristas de guinchos. Nada como ter criatividade para enfrentar a crise.
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