As tempestades de verão
As tempestades de verão são devastadoras. Destroem o que encontram pela frente com a sem cerimônia dos elefantes bebendo água.
Chegam, pintam o céu de cinza, relampejam, os trovões estouram, os cachorros ficam com medo e o mundo vem abaixo, em rajadas de vento jogando a água da chuva com força contra o vidro dos carros, as janelas, as paredes e os muros.
As árvores se curvam diante da força do vento. As mais teimosas simplesmente caem, derrubadas por uma força mais forte que suas raízes e seus galhos.
As mais espertas aceitam a rajada, se dobram, vergam, entram no clima, com as copas sendo jogadas de um lado para o outro, como enorme catapulta atirando pedras contra as muralhas de um castelo imaginário.
Os pingos crescem de tamanho e intensidade. As calhas não dão conta da água que escorre pelos telhados e extravasam, deixando de ter muito de sua utilidade.
Os guarda-chuvas viram no avesso, encharcando quem imaginava que estaria protegido, ainda que atravessando a tormenta. Para a chuva, molhar as pessoas é mera consequência. Na fúria da tempestade se abatendo sobre a cidade, molhar mais ou menos um tanto faz. A proposta é outra. A proposta é mostrar a força da natureza e a inutilidade de se tentar lutar contra ela.
Ainda mais quando a administração municipal ajuda as forças destruidoras, deixando os bueiros sujos e entupidos e, por isso, a água acumular nas ruas.
Daí em diante, alagar, fechar as ruas, destruir casas e carros é coisa de somenos. Fica fácil. E isso tudo acontece rapidamente, na velocidade dos raios caindo, na beleza aterradora que expõe nossa insignificância.
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