As espatódias se encheram
As espatódias se encheram de ficar esperando, de não serem lembradas, de ninguém chamá-las.
Se encheram e vieram com tudo, aproveitando as chuvas de verão para abastecer os botões das flores e armazenar água para alguma finalidade mais inteligente e útil do que as crianças brincarem de guerra.
Floriram. Poderia parar aqui. As espatódias floridas causam o frisson, o momento, o drama necessário para não precisar mais nada além disso.
Menos seria pouco, mais seria inútil. Para elas, tanto faz, o momento é agora e agora elas estão floridas porque os resedás e os flamboyants floriram antes delas.
As espatódias não são invejosas, mas sabem o seu lugar no mundo vegetal. Não tem essa de agora sou eu, depois vem você.
Não, para elas a hora é agora e agora elas apareceram floridas. O resto não tem a menor importância. As espatódias são autossuficientes em flores, água e certeza de estarem certas.
Se o mundo pensar diferente delas, tanto faz, quem está errado é o mundo. Uma espatódia não erra, por mais que doa e no escuro do quarto ela chore.
Para uso externo ela está, esteve e sempre estará certa. Não há compromisso, não há transigência. É assim e acabou. E é assim porque as espatódias querem que seja assim. Se você acha ruim, ninguém te impede de se mudar para Redenção do Murgéa. Fica logo ali.
Aqui mandam as espatódias. Se você quer ficar, tudo bem, pode, desde que não discuta que elas têm sempre razão. Tem outras floradas? As espatódias não se abalam. Para elas o que importa são elas.
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