As espatódias da Cássio Martins Vilaça
Quando eu era bem mais moço, as espatódias se chamavam mija-mijas. Suas flores armazenam água e nós fazíamos guerra com as flores dos mija-mijas, espremendo-as na direção dos outros.
Mija-mija era tão óbvio que quando um importante político francês visitou a fazenda de Louveira e, encantado com uma espatódia florida, perguntou que árvore era aquela meu tio Júlio Salles respondeu de bate pronto: c’est un mija-mija.
As espatódias viraram espatódias muito depois. Quem me contou o nome certo da árvore foi tia Lia, irmã de minha avó Sara, profunda conhecedora do mundo vegetal. Seu orquidário era deslumbrante e sua casa na Avenida Higienópolis era permanentemente enfeitada com flores maravilhosas, uma mais bonita do que a outra.
As espatódias têm lugar importante na paisagem de São Paulo. Boa parte das ruas do Sumaré tem espatódias nas calçadas. Várias praças em toda a cidade também recebem a benção de suas flores vermelhas, muitas vezes fora do tempo certo, o que as faz ficar mais belas.
Agora é o momento das espatódias florirem. Entre dezembro e março elas se esbaldam e desafiam as quaresmeiras.
Entre as árvores que este ano chamam a atenção, duas, na Rua Cássio Martins Villaça, no Pacaembu, merecem um capítulo à parte. Plantadas no mesmo lado da rua, a primeira, maior, dá o tom, com o verde e o vermelho ocupando a paisagem. Assim que o carro passa por ela, a segunda explode, entra em cena, menor e menos florida, completando a pintura impressionista que decresce sem perder o vigor.
Não é todo dia que a mão do homem faz a paisagem mais bonita. Com certeza quem plantou as duas árvores não pensou no efeito da florada 30 anos depois. O acaso é capaz de criar beleza até onde não se espera.
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