A turba ou a massa informe

Só quem já viu sabe o que eu quero dizer. É assustador! Sob todos os aspectos, desde o medo físico, até o desalento com o futuro de milhares de jovens parados na rua, como uma massa informe, zumbis sem vontade, sem razão, sem conteúdo, exceto estarem ali, bebendo, se drogando, andando de um lado para o outro, na madrugada fria de um domingo de inverno.

Por alguma razão que não vem ao caso, às quatro e meia da manhã precisei ir para a região da Peixoto Gomide, perto da Rua Augusta.

Marginal, Ponte Cidade Jardim e Rua Augusta acima. Afinal, naquela hora não tem trânsito nenhum. Em pouco tempo estávamos na esquina da Avenida Paulista. Lá vimos vários grupos que vinham, separados, mas próximos um do outro, pela Augusta, do Centro para a Paulista.

Como caldo de galinha e cautela nunca fizeram mal a ninguém, entrei na Luiz Coelho à direita para continuar pela Frei Caneca.

Quase que complemente vazia, segui por ela, contente com minha ideia, até me aproximar da Peixoto Gomide. Aí, foi o oh!

Uma multidão amorfa, se preferirem, uma turba, tinha tomado conta do pedaço e estava parada no meio da rua, nas calçadas, nos bares em volta.

Por sorte, quando cheguei na esquina, entrei atrás de um carro que se arrastava pelo meio da massa de gente, vindo da Rua Augusta. Ele foi lentamente abrindo caminho, mas era uma coisa sinistra, porque ele passava e, antes que eu passasse, a turba retomava a rua, me obrigando a desviar, guiando bem devagar, rezando para não esbarrar em ninguém, enquanto ouvia e via baterem na lataria e nos vidros. Ali eu entendi o que o motorista que atropelou os skatistas sentiu. Um movimento mal compreendido e teriam destruído o carro, comigo e minha mulher dentro. O mais apavorante é que não tinha nem sinal de polícia.