A modernidade é muito antiga
Tem quem pense que a história do mundo é coisa recente e que o que acontece hoje nunca aconteceu antes. Em termos tecnológicos isso é quase verdade. O que o mundo passou ao longo dos últimos 70 anos é espantoso. Mas, no campo social, no campo ético, religioso e no comportamento das pessoas, não tem nada de novo ou que já não tenha acontecido pelo menos uma vez ao longo do tempo.
Mesmo o progresso material, ele não é exclusividade dos nossos dias. Ninguém tinha celular há 35 anos. Mas lembre-se que, até a descoberta do fogo, a comida era devorada crua e que, sem ele, nada teria acontecido.
Imagine a primeira lança, a primeira flecha, a primeira roda. Imagine as primeiras habitações e a capacidade de fazê-las. Pense na criação do anzol, da alavanca, na domesticação dos animais.
Pense nos avanços da ciência que levaram à cura de doenças, às cirurgias cada vez mais sofisticadas, ao prolongamento da vida humana.
É nessa linha de evolução que, há coisa de 40 anos, Uberaba deu uma lição ao mundo. Lição fugaz e quase apagada, mas não podemos esquecer que o primeiro voo de Santos Dumont também foi curto e rápido.
Um belo dia, muito antes de se falar nisso, um empresário local decidiu que era hora de abrir uma casa noturna que abrigasse todas as tribos, ou todas as correntes, de forma pacífica e civilizada.
Um lugar onde cada um pudesse ser o que era, sem preconceito de gênero, cor ou preferência sexual. Assim surgiu a “Mandioca de Ouro”, pensada para ser o lugar de integração entre os opostos, convívio pacífico e respeito ao próximo. Na inauguração, um show transformista abriu a noite. O artista era um homossexual negro, famoso como um dos brigões da cidade. Alguém mexeu com ele, ele desceu do palco e o pau comeu. No dia seguinte, a “Mandioca de Ouro” fechou suas portas para sempre.
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