A espatódia vingadora
Está certo, ainda é o momento das quaresmeiras e elas têm se superado, tanto na cidade como na serra, dividindo os espaços com os manacás e enfeitando a vida como se não houvesse outra razão de ser para o dia seguir a noite e a noite seguir o dia, infinitamente, eternamente, no ritmo dos cometas voando pelo céu, brincando de esconde-esconde e desviando dos planetas porque ninguém quer machucar ninguém.
As quaresmeiras merecem todo o respeito. Esta época do ano é delas. Está na folhinha cósmica que marca os momentos de cada florada e por isso não tem discussão. Agora são as quaresmeiras, depois é depois. Mas o depois tem ordem e, dentro dela, deve ser a vez das paineiras.
Nada de novo debaixo do sol. É assim porque é assim, não adianta querer mudar, trocar, dizer que não sabia. É assim e acabou. Na natureza há pouco espaço para negociações. Não é como no Congresso Nacional, e muito menos como foi na Petrobrás.
Mas tem sempre um “mas” que vem para mudar a história. No caso, uma espatódia plantada numa calçada do Pacaembu, perto da Praça Wendel Wilkie. Para ela, tanto faz se o momento é de prestigiar as quaresmeiras. Se vestiu com sua roupa de festa e desabrochou as flores vermelhas claras com a vontade e a intensidade de quem não tem medo de nada e está disposto a enfrentar o que vier pela frente para ocupar seu espaço nesta história.
E ela está linda, enfeitando a rua, um pouco antes da pracinha onde as galinhas soltas fazem de conta que São Paulo é uma currutela perdida na boca do sertão.
A espatódia do Pacaembu veio mostrar que o livre arbítrio tem peso nas coisas da vida e que cada um é o que é porque quer ser. Pra ela, seu momento também é agora. E outras espatódias já seguem seu exemplo.
Voltar à listagem