A culpa é de quem bate atrás
Você segue sossegado, de manhã cedo, ainda com pouco trânsito. À sua frente os carros vão numa toada razoável, sem pressa como acontece em ruas normais. De repente um carro simplesmente breca e para no meio da pista. Mas não na pista da direita, onde seria o lugar dele estacionar.
Não, ele para na faixa do meio, sem razão nenhuma para isso, sem semáforo vermelho ou amarelo. Sem carro na frente, sem nada que justifique ele parar.
Simplesmente para. À sua direita um caminhão de lixo segue seu rumo. Está na pista certa, tocando em frente, sem perceber que o carro parou praticamente ao seu lado, na pista a sua esquerda.
O carro que vai atrás do que parou freia e quase dá, mas não dá, bate de leve no carro que parou. O que vem atrás desse, com ABS e tudo, também breca, quase dá, mas não dá: bate de leve no que ia à sua frente.
Como quem não quer nada, o que brecou no começo da história, depois que o caminhão de lixo passa, retoma a marcha, cruza as duas pistas à sua direita e entra num posto de gasolina.
Os dois outros carros envolvidos no acidente entram atrás. A ideia dos motoristas é que o causador da confusão iria falar com eles.
Não, ele desce e pede ao frentista que complete o tanque. O acidente não foi com ele, não foi culpa dele, está com a consciência tranquila, feito criança jogando bolinha de gude.
Interpelado pelos motoristas dos carros que seguiam atrás e que bateram de leve porque ele parou, responde que não fez nada errado, só parou para o caminhão passar e ele entrar no posto.
Nesse instante outro homem sai de dentro do carro e com ar agressivo e absoluto proclama: “a culpa é de quem bate atrás”. Não havia mais nada a ser dito. Este é o Brasil dos dias de hoje.
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