A crônica precisa do belo
Quando comecei a escrever as Crônicas da Cidade, em outubro de 1992, a proposta era mostrar o belo da cidade de São Paulo. O lado alegre, bonito, florido e positivo dessa metrópole alucinada e neurótica, onde a vida corre na velocidade do pensamento e o que era novo ontem é velho hoje, como o que é novo agora já será velho em 5 minutos.
Fama, glória, riqueza, São Paulo tritura os pecados capitais com a sem cerimônia de quem sabe que é tudo bobagem e que, no final, só o tempo deixará suas marcas nas paredes sujas, nas calçadas gastas, nas árvores envelhecendo sem cuidados.
Prédio sobe e prédio desce. É a regra no mundo e aqui não é diferente. A cidade se reinventa diariamente, em construções que desaparecem, em construções que fecham horizontes, em ruas e avenidas que congestionam a incompetência humana em faixas pintadas no chão como se fosse possível prender nelas a fúria da vida.
A cidade segue em frente. Indiferente, livre, dona do espaço do planalto, comendo terra, engolindo rios, tapando brejos, no ritmo de sua respiração multicentenária, queimando os pulmões que tentam conter seu ar.
O ritmo é o da sua velocidade, da sua vontade, da sua forma de não levar a sério o que as pessoas imaginam que é sério.
Aqui, ontem, tinha uma favela. Ali, uma mansão. Mais além, as ruínas de uma fábrica mostram a mudança da ocupação dos bairros.
Que sei eu do que eu não sei? É assim porque é assim. Na loucura do progresso, procuro seus olhos iluminando o dia, brilhando na luz do dia, enfeitando as flores, dando cor aos muros, fazendo mais bela a beleza azul do céu de outono. E eu te encontro e mergulho nos seus sonhos.
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