A beleza está escondida
É verdade, este ano as paineiras deram um show. Floriram antes do tempo, ficaram floridas quase que até agora e enfeitaram a cidade com o rosa mais ou menos denso de suas flores.
Não contentes com isso, quando as flores caíram, formaram um tapete escondendo o cinza e a sujeira do chão.
E outras plantas estão tomando o lugar das paineiras. O mundo vegetal gosta de se exibir e quem ganha com isso somos nós, humanos moradores da cidade alucinada, que nem sempre merecemos a beleza das flores ou o verde das folhas, mas os recebemos apenas porque estamos vivos.
A verdade é que mesmo num mergulho mais fundo, até as entranhas da metrópole, tem sobrado pouca beleza criada pelos homens. Não, não é por falta de edifícios bonitos e modernos, nem porque as ruas não tenham carros importados de todas as partes.
Isso tem de sobra. O que está faltando é a beleza interior, o calor humano, nascido de gestos humanos feitos para outros humanos por seres humanos que necessitam somar e dividir, fazer diferença, estender a mão, acender o fogo, comer a comida comum na ceia comunal.
Os tempos têm sido de eu para mim mesmo, dane-se o outro. Nunca a máxima do grande filósofo William Scott Pitt foi tão atual. “Você para mim é problema seu” poderia estar escrito em quase todas as portas dos automóveis que circulam pela cidade.
O que aconteceu com os sólidos princípios morais introduzidos pelo gigante irlandês Paul Hada? Até quando José de Anchieta fechará os olhos para não ver o egoísmo comer solto nos campos de Piratininga? Meu Deus, onde estão as pessoas de bem? Se elas são maioria, por que o horizonte está tão escuro?
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