Uma mudança que ainda não está clara
Originalmente publicado no jornal SindSeg SP.
por Antonio Penteado Mendonça
De acordo com a ANFAVEA (Associação dos Fabricantes de Veículos), o número de carros eletrificados vendidos do começo do ano até agora já superou a venda de todos os carros eletrificados vendidos em 2022. É uma notícia importante porque mostra a tomada de consciência da população brasileira em relação à proteção do meio ambiente e a resposta rápida da indústria à nova visão da sociedade.
Todavia, ninguém discute que, ainda que com os aumentos importantes já registrados, o processo da transferência da matriz fóssil para os combustíveis renováveis não será rápido. Mesmo o etanol, que deve caminhar mais depressa, especialmente depois da união de Brasil, Estados Unidos e Índia para aumentar o seu consumo ao redor do mundo, não deve alcançar patamares muito expressivos nos próximos anos. Os veículos movidos a gasolina e diesel seguirão sendo os mais vendidos.
Pelo menos por muitos anos, a eletrificação seguirá sendo híbrida, primeiro com os derivados de petróleo e depois atuando em conjunto com o etanol, cujo custo é mais barato e também um combustível limpo. A adoção da eletricidade como única matriz, se é que vai acontecer, é história para algumas décadas. Até lá, gostem ou não, o petróleo seguirá tendo importância vital como combustível automotivo. E o etanol deverá ocupar cada vez mais espaço.
Isso não significa que as mudanças não estejam em curso e suas consequências não tenham peso já nos dias de hoje. Cada vez mais, temos carros 100% elétricos e o seu maior problema, que é o da autonomia, vai sendo solucionado com a adoção de baterias cada vez mais potentes e com a instalação de pontos de reabastecimento pelo interior dos países.
É assim que o Brasil, que não é propriamente um campeão da eletrificação veicular, tem cada vez mais veículos 100% elétricos, tanto automóveis, como ônibus e caminhões. É aí que acontece uma revolução silenciosa, que ainda não foi claramente compreendida pela maioria da população, incluídos profissionais que atuam no mercado segurador, onde essas mudanças têm um peso importante, principalmente na precificação dos seguros e na regulação dos danos decorrentes de acidentes de todas as naturezas.
É relevante as seguradoras estarem ao par das mudanças profundas que afetam a indústria automotiva em função da adoção da nova da matriz energética. Mas é tão importante quanto os corretores também se inteirarem delas para melhor avaliarem os riscos e aconselhar seus segurados.
Um carro elétrico é uma máquina completamente diferente de um carro convencional ou mesmo de um carro híbrido. É um risco novo, a começar pela estrutura do veículo, que é completamente diferente e, consequentemente, tem outros pontos fortes e fracos na sua carroceria. Colisões que atinjam determinadas áreas causarão danos irreversíveis, especialmente em acidentes que hoje não são tão graves. Da mesma forma, o motor e a tração são completamente diferentes, para não falar no que fazer com as baterias velhas ou danificadas nos acidentes.
Entre secos e molhados, ainda que a forma externa dos veículos não indique isso, o que vem pela frente é novo e precisa ser conhecido, sob risco de se contratar mal o seguro de um bem que custa caro.
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