Seguros – cuidado com 2017
Originalmente publicado no jornal SindSeg SP.
por Antonio Penteado Mendonça
Conversando com alguns dos principais executivos do setor, fica claro que o problema para a atividade seguradora não é o ano de 2016, será 2017. As razões são mais ou menos óbvias, ainda que não tenham sido levadas em conta, pelo menos com a cautela necessária, por mais de uma diretoria.
Aliás, aqui se colocada uma pergunta interessante: não terão sido levadas em conta ou não terão sido percebidas, em função do resultado financeiro muito acima da previsão mais otimista? Entre mortos e feridos, com a maior crise da história cobrando seu preço de mais de 12 milhões de desempregados, da indústria em geral e do país como um todo, o setor de seguros fecha 2016 com resultados mais robustos do que grande parte dos demais setores econômicos nacionais.
Mas até que ponto este resultado exprime o que de fato aconteceu? É como se com ele fosse possível apagar a tragédia do setor automobilístico e o seu impacto negativo nos seguros de veículos. Os números oficiais apontam um resultado de menos 1,3% no faturamento dos prêmios na carteira, na comparação com o ano anterior, mesmo a inflação beirando a casa dos 10%. Quer dizer, o resultado real do negócio é negativo, mas a última linha do balanço pode apresentar lucro, melhorada pelos rendimentos financeiros, pontuais e completamente estranhos à operação em si.
É verdade, com o novo governo, houve uma mudança das expectativas em relação ao Brasil. De pessimista, o mercado passou a ter uma esperança, mas, para que ela se mantenha, é indispensável que as reformas, ou, menos do que elas, as ações em andamento, apresentem resultados concretos, capazes de justificar o novo humor e permitir que o país avance.
Para que o país comece a sair do buraco serão necessários alguns anos. A recuperação não acontecerá em poucos meses.
E isso começa a ser percebido pelos agentes econômicos. Até quando eles terão paciência é uma outra questão.
O dado certo é que a retomada do crescimento, a geração de empregos, a revitalização da sociedade e de sua capacidade de poupança e consumo deve se estender por alguns anos.
Para o setor de seguros isso quer dizer, na melhor das hipóteses, a manutenção do patamar atual. Os seguros ligados ao setor de RH não têm razão para crescerem sem a contratação de mão de obra. Os seguros patrimoniais não têm razão para crescerem sem o aumento da demanda. Os seguros de veículos não têm razão para crescerem, no curto prazo, brecados pela crise e, no médio prazo, atingidos de frente pelas profundas mudanças no uso do automóvel, que devem levar à redução do tamanho da frota de forma relativamente rápida.
Como se não bastasse o processo de retomada do desenvolvimento ser lento, mais dois dados terão impacto na vida econômica nacional e, dentro dela, diretamente no setor de seguros. O primeiro é a queda dos juros, que se mostra muito provavelmente irreversível. O segundo é o resultado da eleição presidencial norte-americana, que deve gerar uma série de consequências para a economia mundial, a começar pela mudança do foco dos investimentos em função da elevação dos juros nos Estados Unidos.
Nenhuma é boa para o Brasil e muito menos para as seguradoras em operação no país. Elas impactarão diretamente os números de 2017, já que não é provável que o investimento estrangeiro seja feito em novos negócios, mas apenas na compra de negócios já existentes. Além disso, a queda dos juros vai afetar o resultado final dos balanços das seguradoras, mostrando que as coisas são mais complexas do que parecem em 2016 e que não será fácil reverter o quadro, até porque boa parte das seguradoras brasileiras depende dos seguros ligados ao RH e dos seguros de veículos.
Não se espera nenhuma quebradeira generalizada, mas várias companhias terão que rever seus focos, estratégias e formas de atuação, sob o risco de não saírem do buraco porque não conseguirão girar da forma como estão fazendo agora.
De acordo com os executivos com quem conversei, mais do que nunca, é hora de baixar a bola e fazer a lição de casa.
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