Seguro de vida, plano de saúde e pandemia
Originalmente publicado no jornal SindSeg SP.
por Antonio Penteado Mendonça
A pandemia do coronavírus tem alguns aspectos interessantes, que merecem reflexão. São situações inusitadas, contraditórias ou inesperadas que geram consequências as mais diversas, nos mais diferentes campos socioeconômicos.
A primeira e mais importante de todas as heranças do coronavírus é a crise econômica que compromete o desempenho de praticamente todos os países. Não tem como ser diferente, 2020 será um ano de resultados muito ruins para a economia global. Tanto faz a nação, todas, sem exceção, perderão ao longo dele.
Alguns governos dirão que, entre mortos e feridos, deram a volta por cima, mas na maior parte das vezes é balela, conversa para boi dormir ou enganar o eleitorado. A triste realidade é bem diferente e aponta uma redução cavalar da atividade econômica, tanto faz o continente ou a nação. Ao que dizem, a China será menos afetada e quem sabe consiga fechar o ano com algum crescimento. Já os demais países devem seguir no rumo da recessão e da queda do PIB (Produto Interno Bruto), com todas as consequências daí advindas. Quebradeira de empresas, desemprego, empobrecimento da sociedade, queda nos padrões de vida.
O setor de seguros não passará ao largo dos estragos. A crise impacta todas as atividades e o setor não é exceção à regra. Até o momento, de acordo com o levantamento de uma consultoria suíça, as seguradoras e resseguradoras, globalmente, já reportaram sinistros da ordem de vinte bilhões de dólares. E a tendência é este número continuar a subir, sem que seja possível se fazer uma previsão acurada de qual será o total das indenizações no final da pandemia.
A razão desta dificuldade é o comportamento errático do vírus e o desconhecimento quase que total dele e de sua evolução. Várias “quase certezas” sobre a covid19 já foram ou vão sendo desmentidas pelos fatos.
Inclusive a afirmação de que quem contrai a doença fica imune e, portanto, livre de voltar a contraí-la. Parece já haver casos de uma segunda contaminação da mesma pessoa.
No Brasil, o setor de seguros vive um momento particularmente complexo. É verdade que houve a queda da sinistralidade em carteiras como seguros de veículos e planos de saúde privados. Mas também é verdade que há a queda do faturamento pela diminuição da contratação de seguros novos e da renovação das apólices e pelo aumento do inadimplemento dos segurados.
Em compensação, o aumento das mortes pela pandemia – que foram aceitas como cobertas pelas seguradoras – e o crescimento do número de homicídios pode impactar os seguros de vida. Ainda que este impacto não seja avassalador, porque a maioria dos mortos pela covid19 e vítimas de homicídios não têm seguros, não há como se deixar de considerar as estatísticas, até porque o aumento do desemprego traz consigo a redução do número de segurados e a consequente queda do faturamento.
Várias operadoras de planos de saúde privados tiveram desempenho interessante. Apesar dos planos cobrirem o atendimento da covid19, eles deram lucro no primeiro semestre, muitas vezes com resultados melhores do que no final do ano passado. A explicação não é difícil. A pandemia trouxe com ela o medo das pessoas procurarem os hospitais, consultórios e unidades de saúde. O resultado foi o cancelamento ou o adiamento da maioria das consultas e procedimentos eletivos, aqueles que, apesar de importantes, não são urgentes e podem ser realizados depois do pico do coronavírus.
O problema, como já pode ser visto na rede pública de saúde, é que, com a aceitação da pandemia como mais uma mazela na vida do brasileiro, as pessoas estão retomando as rotinas suspensas com a chegada do coronavírus e remarcando os procedimentos eletivos e isso já está sobrecarregando a rede do SUS.
O quadro deve se repetir no universo dos planos privados. Com a liberação dos casos represados somada aos casos novos haverá o aumento das despesas. Como se não bastasse, a crise está reduzindo o número de segurados e o faturamento.
O momento é de muito cuidado. Dependendo da ação, a empresa pode ganhar ou perder.
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