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Crônicas & Artigos

em 19/06/20

Seguro, crise, desemprego, violência e inflamação

Originalmente publicado no jornal SindSeg SP.
por Antonio Penteado Mendonça

Muitos especialistas dizem que em abril o Brasil chegou no ponto mais negro da recessão de 2020. Todos os indicadores foram muito ruins e a queda da economia foi tão forte que o Banco Central acaba de reduzir a taxa de juros para inéditos 2,25% ao ano, a menor taxa da história do país, que leva a remuneração das aplicações atreladas à taxa básica de juros a também inéditos resultados negativos.

Os números de maio ainda não estão consolidados, mas a queda do emprego formal deve ser recorde, tanto que, de acordo com o IBGE, atualmente o Brasil tem mais de 28 milhões de pessoas sem condições de conseguir emprego, seja porque estão com medo da pandemia, seja porque o fechamento de milhares de empresas destruiu milhões de postos de trabalho.

O resultado desse quadro lamentável é o aumento da violência nas ruas das cidades. Se até agora era uma impressão, fruto de se andar de automóvel por São Paulo, as estatísticas acabam de confirmar o quadro. Abril viu voltar a crescer o número de homicídios.

Interessante observar que abril foi justamente o mês em que o isolamento social foi mais respeitado, com boa parte da população ficando em casa. Contrariando a lógica, segundo a qual menos pessoas nas ruas significaria menos crimes violentos, não foi isso que aconteceu. Os homicídios aumentaram e muito, revertendo uma longa queda observada nos últimos anos.

Como o desemprego deve continuar subindo, as chances de mais cidadãos ficarem em situação de miséria são concretas. É ver a quantidade de pessoas com cartazes pedindo comida ao longo das esquinas para não ficar dúvida de que a situação é séria e tem tudo para se agravar, inclusive no tópico violência.

As perspectivas sociais são muito ruins e a eventual recuperação econômica deve demorar, comprometendo o desempenho do país em 2021. Isto significa que o aumento do desemprego e da miséria deve se manter por vários meses, com tudo de negativo que traz consigo.

Desemprego e miséria alimentam o desespero, que alimenta o aumento da violência e ameaça a sociedade, sejam pessoas físicas, sejam empresas.

Entre as atividades que sentem com mais força o peso deste cenário está o setor de seguros. As seguradoras sentem a crise no faturamento, na queda dos negócios, no inadimplemento dos contratos em vigor, no cancelamento das apólices por falta de pagamento e no aumento dos sinistros.

Não são apenas as perdas diretamente causadas pela pandemia do coronavírus que as afetam. As decorrentes da crise também marcam presença, representadas pelo aumento dos sinistros patrimoniais de todas as naturezas, de furtos de celulares a incêndios e fraudes contra o seguro.

Como se não bastasse, a economia, com a inflação em patamares inusitadamente baixos, não por mérito do governo, mas por falta de demanda, trouxe junto mais um complicador. A queda dos juros básicos para 2,25% ao ano fez com que a remuneração dos títulos da dívida pública se tornasse negativa, piorando a última linha dos balanços das seguradoras.

Grande parte dos recursos das seguradoras, pelo menos os comprometidos com suas reservas, deve ser aplicada em títulos públicos, os quais, num período de dois anos, apresentaram uma queda de rentabilidade inédita na história recente.

A soma do aumento da violência, do desemprego, do aumento dos sinistros e da queda da remuneração dos recursos investidos têm como resultado a piora obrigatória dos resultados das companhias.

Mas não são só elas que sentem a piora do cenário. Os corretores de seguros, além da queda de faturamento, decorrente da redução do ritmo dos negócios e do isolamento social, sentem todas as ameaças consequentes da necessidade de se locomoverem pela cidade.

E tem um terceiro grupo, o maior de todos, que sente mais ainda. Os segurados, parte integrante da população, são as maiores vítimas do cenário devastador introduzido no país com a chegada da pandemia.

Infelizmente, neste momento, a única esperança é a certeza de que em algum momento as coisas começarão a melhorar.

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