Seguro auto popular
Originalmente publicado no jornal SindSeg SP.
por Antonio Penteado Mendonça
Desde o dia primeiro de abril está em vigor um novo seguro que tem tudo para ser um diferencial importante para o crescimento da carteira de seguros de veículos. O seguro de automóveis, com o desenho atual, foi uma revolução na atividade. Fruto da visão de Jayme Garfinkel, em meados de 1980, a Porto Seguro lançou uma série de inovações que, em pouco tempo, transformaram o seguro de veículos na principal carteira do mercado brasileiro.
De lá para cá, o setor de seguros foi dos que mais cresceu na economia nacional. De menos de 1% do PIB, atualmente os prêmios e contribuições anuais saltaram para mais de 6% e as reservas ultrapassam os quinhentos bilhões de reais.
É número de gente grande e o seguro de automóveis tem papel importante dentro dele, na medida em que é uma das principais carteiras da maioria das seguradoras que operam com seguros gerais.
Mas o seguro de veículos tradicional é um produto com alvo definido: ele serve bem aos veículos com até 5 anos de idade. Depois disso, se torna caro, com a relação custo/benefício espantando um elevado número de segurados, que deixa de fazer seguros para seus carros, inclusive os de responsabilidade civil e acidentes pessoais dos passageiros.
A principal razão para isso é a regra aplicável à origem das peças utilizadas nas reparações dos veículos sinistrados. Como devem ser peças originais, são tão caras que, muitas vezes, dependendo da idade do veículo a ser consertado, chegam a custar um bom percentual do preço total do carro, comprometendo a possiblidade do seguro custar barato, numa soma cruel com a quantidade de roubos e furtos de veículos ao longo do ano.
O seguro de auto em vigor é um produto eficiente para as classes A e B. Aliás, quando foi desenvolvido, não havia veículo financiado em 60 messes, nem o país vivia qualquer explosão de consumo incentivada pelo Governo. O seguro foi desenhado para este cenário, no qual os carros mais velhos simplesmente ficavam de fora da atividade seguradora, penalizando seus proprietários em caso de sinistro.
Tanto é assim que, na melhor das hipóteses, os veículos segurados não representam 25% do total da frota nacional. Ou seja, o seguro auto popular é uma ferramenta com enorme potencial para mais do que dobrar o volume de prêmios gerados pelos seguros de veículos brasileiros. A partir de agora, o potencial de penetração do seguro sai dos 25% para mais de 50%, com a possibilidade real do número de veículos segurados dobrar em poucos anos.
O pulo do gato está na regulamentação da nova modalidade de seguro. Diferentemente das regras atuais, que exigem peças novas, o seguro auto popular contempla o uso de peças recondicionadas ou retiradas de veículos sinistrados no conserto dos veículos segurados. Isso tem a capacidade de baratear muito o preço dos reparos, com reflexo evidente no preço do seguro, que passa a ter um custo/benefício razoável e suportável para milhões de proprietários de veículos, hoje, sem condições de contratar seguro.
Entre as disposições da nova modalidade de garantia, vale salientar, além do uso de peças recondicionadas ou retiradas de veículos sinistrados, a obrigatoriedade da cobertura mínima garantir indenização para perdas parciais e totais sofridas pelo veículo segurado, em função de acidente. Além disso, o segurado pode escolher, no momento da contratação, se ele deseja ter livre escolha de oficinas ou se prefere utilizar a rede credenciada da seguradora.
É de se esperar que ainda leve algum tempo para o novo seguro começar a tomar vulto e se tornar importante para a carteira de seguros de veículos. Inclusive porque a crise econômica está levando o desemprego a patamares muito altos, inviabilizando a contratação do seguro por falta de recursos e a consequente priorização das despesas pelas famílias.
Mas a ideia é boa e veio para ficar. Em algum momento, o seguro auto popular ocupará seu espaço e a carteira de seguros de veículos terá um segundo empurrão, agora, capaz de dobrar o faturamento atual.
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