“Pólicrise”
Originalmente publicado no jornal SindSeg SP.
por Antonio Penteado Mendonça
A palavra do momento na atividade seguradora internacional é “pólicrise”. Uma palavra nova, que se aplica ao momento que o mundo passa, pelo menos na visão de um dos grandes grupos seguradores, que criou o termo para definir a nova realidade global onde uma série de crises diferentes e em teoria distantes umas das outras, de verdade, estão muito mais próximas e, em conjunto, têm impacto profundo no que acontece no todo, criando o palco para um tusunami gigantesco, não pelo primeiro impacto, não através de uma onda devastadora, mas através de uma longa sequência de ondas sucessivas, que continuarão entrando continente a dentro por um longo tempo.
Se isoladas estas crises já teriam capacidade para gerar perdas vultosas, em conjunto e acontecendo simultaneamente, elas potencializam os prejuízos, com a agravante de terem abrangência global, gerando, concomitantemente, danos a pessoas e patrimônios ao redor do planeta.
Como as crises estão interligadas, a ocorrência de um único evento, limitado a uma região geográfica, tem o condão de desencadear uma série de outros eventos, com origem em outras crises, que se alastram pelas nações como ondas concêntricas, irradiando suas consequências para novas áreas já afetadas por outras crises, que, de novo, se somam, ganham força e se espalham, num movimento contínuo que se autoalimenta e segue em frente, aumentando a frequência e a violência dos eventos, que deixa de ser gerada por uma determinada crise específica para engrossar o caldo da “pólicrise”, que gera mais potência destruidora pela soma constante das diferentes crises que se abatem sobre a terra.
Em outras palavras, na “pólicrise” a soma das diferentes crises cria um caudal que engrossa permanentemente ao longo de seu percurso, alimentado pelas diferentes crises localizadas ao redor do planeta e que vão desaguar na corrente maior, que envolve toda a humanidade e, por óbvio, tem impacto direto e catastrófico sobre a economia e a atividade empresarial, acertando de frente o setor de seguros.
Como principais componentes da “pólicrise” temos uma série de eventos que ao longo dos últimos anos, um com origem independente do outro, foram tomando de assalto o cotidiano dos oito bilhões de seres humanos que habitam na terra.
Apenas por uma questão cronológica, inauguro o rol destes eventos com as mudanças climáticas. É bom lembrar que no ritmo em que elas acontecem, são também os eventos com maior capacidade de causar danos de todas as naturezas, como a possibilidade concreta de submergir grandes áreas urbanas situadas a beira mar.
Mas além delas, a pandemia do coronavírus, que se recusa a acabar, mostrou a nossa fragilidade diante de crises sanitárias e a vulnerabilidade das sociedades expostas a elas. E ela foi só a primeira.
Para quem quer mais, a guerra da Ucrânia, com fim cada vez mais distante; a crise migratória que expõe milhões de pessoas as crises anteriores; a inflação e a crise de desenvolvimento que atinge o mundo em geral e a Europa em particular não podem mais ser tratadas independentemente uma das outras. A “pólicrise” é isso e nós já estamos convivendo com ela.
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