Osmar Bertacini
Originalmente publicado no jornal SindSeg SP.
por Antonio Penteado Mendonça
As duas únicas certezas ao longo da vida são o pagamento de impostos e a morte. Todos, em algum momento, pagarão impostos e, em outro, morrerão. É inexorável, não há remédio, nem possibilidade de escape.
As razões que levam alguém a morrer variam, mas, como disse Augusto Matraga: “todo mundo tem sua hora e sua vez”. As questões decorrentes são simples: quando e como. E estas respostas invariavelmente não nos são dadas, pelo menos até poucos instantes antes da partida.
Por que alguém morre moço ou velho escapa à compreensão. E escapa mais ainda quando vemos gente de primeira ordem saindo de cena cedo, enquanto bandidos, picaretas e gente má em geral vive uma vida longa e invariavelmente feliz.
Um amigo diz que Deus é amigo de quem morre sem perceber. Quem morre rapidamente, de preferência dormindo ou lendo o jornal no café da manhã. Um suspiro e pronto, está morto, sem se dar conta de que morreu. Não discuto, é duro para a família, especialmente quando o morto, até a hora da morte, não apresentava sintoma de que poderia morrer.
Mas para quem vai, que morte abençoada! Sai de cena sem se dar conta do fim da jornada. A morte de Osmar Bertacini foi quase assim.
Meu amigo de quarenta anos pegou todos de surpresa. É verdade, tinha passado por uma cirurgia complexa, mas tudo correra bem. Os sinais eram os melhores dentro do quadro. Mas não foi assim que as coisas aconteceram. Uma complicação inesperada levou o Osmar, colocou fim a uma vida bem vivida, ao longo da qual ele fez basicamente o que queria.
Comeu sapos? Teve momentos difíceis? Claro! Só quem não entende as coisas ou é mentiroso diz que viver é fácil. Mas tem aqueles que, por uma razão ou por outra, são mais felizes, passam pela vida não necessariamente com menos atribulações, mas de forma mais leve, em sintonia com suas vontades e convicções.
Sob este prisma, a vida de Osmar Bertacini foi uma vida abençoada. Ao longo de setenta e seis anos, do quais mais de cinquenta dedicados ao seguro, ele tocou em frente com uma vontade impressionante, como se viver significasse aproveitar cada segundo da forma mais intensa.
Para Osmar não tinha tempo ruim. Se ele se interessasse, tudo o que fosse possível fazer ele fazia e se na ação ajudasse alguém, melhor ainda. Dava mais prazer, alargava os horizontes, justificava levantar da cama, olhar para fora, achar o dia bonito e a vida boa. Significava estar com os preços pagos.
Conheci e fiquei amigo de Osmar Bertacini há quarenta anos, na Companhia Internacional de Seguros, onde ele era o gerente de seguros de vida. Foi uma convivência boa para os dois e é ela que me permite dizer que o grande diferencial de Osmar é que ele era um homem bom.
É por isso que ele vai fazer muita falta. Nos dias de hoje não é fácil encontrar um homem bom. Da mesma forma, não é fácil encontrar um amigo como ele ou um profissional com sua competência.
O amigo Osmar tirava sua camisa para dá-la de presente para alguém necessitado. E ia muito além quando quem precisava era seu amigo. Nesses momentos, Osmar era capaz de se doar completamente e não tinha nada que o impedisse de ir até as últimas consequências para resolver a questão da forma mais satisfatória para o seu amigo.
Profissionalmente, Osmar Bertacini foi dos nomes mais respeitados do setor de seguros paulista nas últimas décadas. Não é caso de elencar os cargos que ocupou, o que fez e as homenagens que recebeu. Quem trabalha com seguro, seja na ponta que for, sabe quem ele foi.
Osmar, você vai fazer falta. Vai fazer falta para sua família, seus colaboradores, seus amigos e para o setor de seguros como um todo. Poucos homens foram tão íntegros, tão leais e tão dignos como você.
Que a eternidade lhe seja leve e que nos pores-do-sol do universo você possa conversar com seus amigos que partiram antes, com o mesmo riso franco que você tinha por aqui, quando a conversa era boa.
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