Os riscos e as garantias vão mudando
Originalmente publicado no jornal SindSeg SP.
por Antonio Penteado Mendonça
Não tem jeito, todo ano, em algum momento do mês de março, chove torrencialmente na cidade de São Paulo. Até agora, este risco era parcialmente segurado, através da carteira de seguros de veículos, que há muito tempo dá cobertura para os danos causados pela água na garantia compreensiva.
Poucos, pouquíssimos imóveis têm garantia para o mesmo risco, mas, de outro lado, uma vasta gama de garantias para outros riscos de origem climática e que podem ocorrer com as chuvas de março estão disponíveis nos pacotes residenciais e empresariais. Sua contratação depende da vontade dos segurados, que, curiosamente, na imensa maioria das vezes, deixam de contratá-las.
A explicação é simples: o brasileiro não tem o hábito de contratar seguros e isso faz com que a penetração do produto ainda seja muito baixa, principalmente nas classes mais baixas da população.
Nada que o tempo e a experiência não mudem. É o que estamos começando a ver. A demanda por seguros deve crescer bastante ao longo dos próximos anos. E isso deve acontecer porque o brasileiro está mais consciente da necessidade de proteger seu patrimônio e sua capacidade a atuação.
Ninguém afeito ao setor tem dúvida de que o mercado pode dobrar de tamanho em cinco anos, bastando para isso que o país continue a crescer, mesmo em ritmo lento.
O que nem todo mundo esperava é o que está acontecendo neste momento e que deve pautar os próximos anos. O setor assiste a uma mudança na demanda por seguros. Produtos que até agora eram os mais desejados estão se recuperando em ritmo lento, enquanto outras coberturas, muitas inéditas até há pouco tempo, vão sendo alvo da demanda dos segurados.
Entre as notícias que vão sendo publicadas, é muito mais comum se ler a respeito dos seguros de garantia em geral do que sobre os seguros de incêndio. Não faz muitos anos, os seguros de garantia eram o ambiente ideal para especialistas e segurados com demandas específicas. Não se falava deles e, quando entravam na pauta, o desconhecimento de seus mecanismos, bastante diversos dos procedimentos adotados pelos seguros mais tradicionais, levavam a sérios problemas de compreensão sobre o que estava sendo segurado e como o seguro funciona.
Da mesma forma, seguros para riscos cibernéticos eram assunto completamente estranho à realidade o brasileiro. Todavia, a rotina implacável do mundo moderno mudou esta percepção e atualmente pouca gente não se interessa em saber o que é, como funciona e para o que servem os seguros para riscos cibernéticos.
E muitos descobrem que precisam deste seguro porque seus negócios e responsabilidades estão seriamente ameaçados por ações de criminosos com acesso aos respectivos computadores e bancos de dados.
Os riscos de responsabilidade civil já são relativamente conhecidos, mas ainda não ocupam o espaço que deveriam ter dentro do faturamento do setor. Os diversos riscos ainda não estão completamente claros ou, pelo menos, a ameaça que representam ainda não foi completamente compreendida.
Responsabilidade civil vai da quebra da vidraça do vizinho por uma bola chutada sem direção aos riscos sofisticadíssimos, e quase incomensuráveis, possíveis de serem causados ao meio ambiente, muitas vezes por pequenos acidentes que não chamam a atenção.
É o caso de gotinhas que pingam durante décadas, uma a uma, lentamente, desapercebidas, poluindo o solo e os mananciais próximos. Também é o caso de um acidente como o da Samarco, em Minas Gerias. E é o caso de uma cirurgia mal realizada, ou um prazo perdido por um escritório de advocacia.
Mas qual o dano máximo que uma falha numa rede social pode causar a terceiros? Na década de 1980, grandes companhias europeias e norte-americanas já tinham seguros de responsabilidade civil com mais de cem bilhões de dólares de capital agregado.
O cenário é amplo e tem espaço de sobra para quem quiser aprender, se profissionalizar e trabalhar bem. Seguradores e corretores estão diante de um momento único. É pegar ou pegar.
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