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Crônicas & Artigos

em 17/11/17

Os raios e trovões estão chegando

Originalmente publicado no jornal SindSeg SP.
por Antonio Penteado Mendonça

Mais uma vez, o verão chega e com ele a certeza das tempestades mais fortes do ano, com todos os danos e estragos que elas causam ao longo dos próximos meses.

O fantástico é que sempre foi assim, desde a época colonial, quando em São Paulo era proibido construir nas várzeas porque elas alagavam e se acreditava que era por isso que as doenças e epidemias se disseminavam pelo planalto.

De lá para cá, muita coisa mudou, na maior parte das vezes para pior. Com a chegada dos imigrantes europeus, liberaram a ocupação das várzeas do Tietê, do Pinheiros e do Tamanduateí, com todos os prejuízos de todos os tipos e tamanhos que desde então custam uma fortuna anualmente para a cidade.

A região serrana do Rio de Janeiro, escolhida como local de férias pela família imperial para fugir do calor abissínio e das epidemias que grassavam pelo Rio de Janeiro, desde aquela época tinha deslizamentos de terra mais ou menos severos, que se agravaram com o aumento da malha urbana ocupando as montanhas, até atingir os níveis brutais de alguns anos atrás, quando os prejuízos foram de tal ordem que até hoje a maior parte deles não foi reposta pelo Governo.

Santa Catarina é célebre pelas enchentes que atingem as áreas próximas do litoral. Os danos são imensos, mas ninguém ainda fez nada concreto para tentar organizar a ocupação das áreas mais sujeitas às enchentes causadas pelas tempestades de verão.

Nos últimos anos, o estado conseguiu ser palco de um furacão, tido como impossível de acontecer no Atlântico Sul, mas que aconteceu e caiu de pau no litoral catarinense.

O Rio Grande do Sul, que no passado tinha um desenho mais amigável, ano após ano, vê seus rios transbordarem, matando, ferindo, desabrigando e causando perdas de monta nas cidades e no campo, onde as safras agrícolas são perdidas em função do excesso de água.

O Paraná não foge do jogo e também entra com enchentes de porte nas mais variadas áreas do estado. Para não falar em tornados, granizo e ventos fortes que destroem imóveis, arrancam casas, levantam automóveis e caminhões e seguem em frente, deixando abertas no chão enormes avenidas pontuando por onde passaram.

Minas Gerais é famosa pelos estragos causados pela água, a começar por Belo Horizonte, que todos os anos acaba tendo parte inundada pelas águas que caem torrencialmente sobre a cidade. Mas os danos se espalham por todo o estado, atingindo lugares distantes, como Uberaba e o Sul de Minas.

Além destes, praticamente todos os estados da Federação estão sujeitos a danos violentos causados pelas tempestades de verão. O dado triste é que, mesmo depois de tantos anos de janela, ainda não há sequer o esboço de um plano de emergência para ao menos tentar minimizar o potencial dos estragos.

É como se a cada ano as chuvas caíssem pela primeira vez, pegando as autoridades de surpresa. Não mudam nem os discursos feitos depois da visita protocolar da autoridade do pedaço à área atingida. Todos prometem mundos e fundos, todos prometem ações de emergência para minimizar os estragos imediatos e planejamento para desenvolver projetos que reduzam ao mínimo as perdas recorrentes causadas pelas chuvas e outros eventos climáticos.

De outro lado, a população mais exposta, a mais sujeita aos danos causados pelas tempestades de verão, é a mais pobre. Como não poderia deixar de ser. Por isso mesmo, é também a parcela de brasileiros que menos contrata seguros. Em primeiro lugar, pelo quase que completo desconhecimento da ferramenta e de suas vantagens; em segundo lugar, pela falta de dinheiro para contratar as apólices; e em terceiro lugar, pela falta de conhecimento de que existem ferramentas capazes de minimizar seus prejuízos.

Este ano com certeza não será diferente dos últimos verões. As chuvas virão e cobrarão sua taxa de mortes e prejuízos, sem que a população tenha um mínimo de chance para enfrentar a tormenta.

Mais uma vez, veremos cenas angustiantes dos sobreviventes expulsos de suas casas, os colégios e ginásios cheios de desabrigados, as longas filas para doar roupas e comida, e ponto final. Não veremos nenhuma ação concreta para começar a mudar a triste realidade.

Mais uma vez, as autoridades se eximirão da culpa, farão discursos imponentes, prometerão mundos e fundos, mas nenhuma autoridade fará nada de substancial para modificar o quadro, que se repetirá em 2019 e assim sucessivamente, até o povo exigir medidas inteligentes para minimizar o problema. A única pergunta séria é quando isso vai acontecer.

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