O mundo vai precisar mais seguro
Originalmente publicado no jornal SindSeg SP.
por Antonio Penteado Mendonça
Depois das chuvas torrenciais que arrasaram o Rio Grande do Sul, uma parte importante do território nacional é destruída pelas chamas de milhares de focos de incêndio que se espalham da Amazônia ao Paraná. Ao mesmo tempo, Portugal sofre sob os impactos de enormes incêndios florestais e a Europa Central está inundada por conta de uma das mais fortes tempestades das últimas décadas. Para quem acha que é muito, os Estados Unidos são vítimas do fogo dos incêndios que se espalham por vários estados e a China sofreu com a passagem de um tufão bem mais forte do que o normal.
Se olharmos com mais cuidado, veremos que outras partes do planeta também estão severamente afetadas por eventos de origem climática. A soma dos prejuízos causados por esses fenômenos, com certeza, fará 2024 ultrapassar as perdas suportadas pelo mundo no ano de 2023, que foram recorde até então.
De outro lado, o Mpox, um vírus com potencial para se transformar numa pandemia, se espalha pelo mundo, sem que se tenha uma vacina confiável para controlar seus efeitos. Ele ainda está longe da pandemia do coronavírus, mas já preocupa, porque, além dos danos potenciais diretamente causados por ele, mostra que o surgimento de novos riscos de saúde é concreto e está acontecendo com enorme rapidez. Não faz três anos que a Organização Mundial da Saúde decretou o fim da pandemia do coronavírus e já temos uma nova ameaça batendo na porta da humanidade. Quer dizer, o quadro tem tudo para se repetir e as mudanças climáticas podem ser um acelerador do processo, com a elevação da temperatura da Terra funcionando como uma incubadora de novas doenças capazes de se espalharem pelo planeta.
Como se não bastasse, a humanidade está num daqueles momentos que mudam radicalmente seu desenvolvimento. Se a revolução industrial foi um ponto de virada na mudança da qualidade de vida da humanidade, os avanços das novas tecnologias, especialmente a inteligência artificial, nos colocam diante de riscos desconhecidos, mas desde já avaliados com potencial para serem muito maiores e mais graves do que os riscos atualmente quantificados.
Com o exposto até agora fica claro que o ser humano vai precisar da proteção do seguro numa escala muito maior do que a atual. Esses eventos têm potencial para causarem danos de trilhões de dólares e afetarem vastas áreas ocupadas de todas as formas por milhões de pessoas.
Mas, além deles, existem outros riscos decorrentes do estado atual do desenvolvimento humano. O aumento da expectativa de vida eleva os custos sociais. As novas tecnologias estão causando uma revolução no emprego e ameaçando os sistemas previdenciários e de saúde pública. Da forma como está, o jogo tem data para acabar. Mais uma vez, o seguro tem um papel fundamental para a readequação das contas. Seus produtos são os mais efetivos nas diferentes formas de proteção social, seja pública, seja privada. O Brasil não vai fugir à média. Isto quer dizer que as projeções para o setor em 2030 são francamente factíveis. A bola está com as seguradoras. Mas, diante das dimensões dos desafios, é essencial que o governo entre em campo com ações e não com discursos. Se isso acontecer, em poucos anos, o Brasil terá mudado de patamar, com as diferenças sociais atualmente gritantes em ritmo de queda.