O espírito do seguro
Originalmente publicado no jornal O Estado de S.Paulo.
por Antonio Penteado Mendonça
Neste momento, entre o Natal e o Ano Novo, vale comparar o imaginário dessas datas com as bases concretas de uma atividade que tem como principal missão proteger o indivíduo e sua família contra as vicissitudes da vida, garantindo a estabilidade social pelo suporte dado a cada um de seus participantes.
Natal e Ano Novo são datas de esperança, de anseio por dias felizes, pela garantia da saúde, da prosperidade e da alegria. É a renovação da vida no nascimento do Cristo, vindo ao mundo numa manjedoura para resgatar os pecados do ser humano, para oferecer um novo início aos que, pelo holocausto do filho de Deus feito homem, têm a remissão de suas faltas.
E o ano novo é o solstício, a renovação da natureza, da vida, o recomeço para quem tropeçou, para quem caiu e, por uma razão ou por outra, perdeu tudo ou quase tudo, a esperança de poder fazer outra vez, de outra forma, mas fazer de novo o que fazia antes, porque é isso que cada um de nós faz, cada um de nós vive.
A vida é dura. Não há vida fácil, não há almoço de graça e a repartição dos pães não é mais do que a vitória do grupo sobre as dificuldades do cotidiano. O momento de encontro e festa que dá sentido à família, que dá sentido ao grupo, que dá sentido à sociedade, que dá a base para as nações.
As estações passam, o frio segue o calor que vem depois do frio, com suas dificuldades e maravilhas, que dão forma à vida e sentido às rotinas de todos e de cada um. Ao longo do caminho, nem tudo é festa, nem tudo acontece segundo o script, nem tudo brilha ou é ouro. Há o seguir em frente, a queda, o reerguer, o recomeçar.
O ser humano sabe disso e, por isso, pelo menos há mais de quatro mil anos, se vale dos princípios básicos que são a razão de ser do Natal e do Ano Novo para minimizar suas perdas, conter os prejuízos e permitir ao grupo que siga em frente, amparado por um mecanismo que o protege e, nesta ação, protege o grupo e garante a integridade do todo.
Quando alguém contrata um seguro de automóvel ou um seguro de vida – os dois seguros mais comuns no mundo – não pensa em tudo isso, ao contrário, pensa no negócio, no produto mais abrangente e mais barato, mas, se parar e fizer uma pequena reflexão, verá que na base do seguro estão exatamente esses princípios, aplicados de forma concreta ao dia a dia das pessoas.
Seguro é um ato de solidariedade, é a ação do grupo para suportar a divisão dos prejuízos de alguns por todos, é o repasse dos prejuízos individuais para a sociedade, através da criação de um fundo comum, que suporta essas perdas, formado pela contribuição individual, proporcional ao risco de cada um, com o objetivo de democratizar os prejuízos que nos atingem indistintamente e de forma desproporcional, independentemente de razão ou merecimento.
Seguro é negócio, tem uma companhia, tem mais gente envolvida, mas, antes de tudo, seguro é proteção, é a certeza de que sofrer uma perda pesada não significa perder tudo. Ao contrário, através do seguro, a sociedade segue em frente.
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