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Crônicas & Artigos

em 09/05/16

O Brasil para estrangeiros

Originalmente publicado no jornal O Estado de S.Paulo.
por Antonio Penteado Mendonça

O Brasil está na bacia das almas e corre o risco de descobrir que o fundo do poço é mais embaixo. Isso é muito bom para os estrangeiros. Com o dólar entre 3 e 4 reais, os exportadores estão satisfeitos, a balança comercial melhorou significativamente, mas quem está realmente contente são os estrangeiros. Para eles é a hora certa para comprar tanto faz o que, afinal, tudo está barato. Com uma vantagem a mais: em algum momento no futuro a crise econômica deve arrefecer, permitindo a utilização do potencial que um país com 8,5 milhões de quilômetros quadrados e 200 milhões de habitantes tem para oferecer.

Não tem erro, a hora é agora, pelo menos para vários setores. É verdade que a perda do grau de investimento é um inibidor para vários investidores que, estatutariamente, não podem entrar em mercados sem o grau mínimo de segurança para suas aplicações.

Mas isso não é um impeditivo para várias empresas e fundos que veem no país uma chance única de fazer bons negócios, a preços muito interessantes e capazes de compensar eventuais prejuízos operacionais. Como se não bastasse, a taxa de juros na casa dos 14% ao ano, somada aos baixos preços em dólares, compensa os prejuízos decorrentes do desaquecimento da economia.

Quer dizer, estrangeiro que investir no Brasil, sabendo o que está fazendo, bem assessorado e com corpo profissional competente, tem tudo para se dar bem e ganhar muito dinheiro, numa concorrência fácil com as empresas nacionais, descapitalizadas, apanhando da crise e sem terem de onde retirar os recursos para se manterem competitivas, fugindo das recuperações e falências que crescem em ritmo acelerado.

Isso vale para o setor de seguros. Tanto que a maioria das companhias de capital estrangeiro está investindo para crescer, apesar da crise que afeta a economia. Mesmo as seguradoras que chegaram por último estão aqui para ficar, e entre as resseguradoras locais, cuja maioria é controlada por grupos estrangeiros, nenhuma pensa em sair do Brasil, tanto que não se vê nenhum movimento neste sentido.

Várias resseguradoras eventuais devem reduzir, ou mesmo parar, a aceitação de riscos brasileiros. Mas isso terá pouco impacto, porque, ainda que sejam a maioria das empresas autorizadas a operar em resseguros, representam, de acordo com gente bem informada, algo próximo de 3% das cessões do mercado. Ou seja, não representam quase nada, nem farão falta, inclusive porque podem continuar participando de pools de resseguros que ofereçam capacidade para o país.

Apesar do momento de ser de cautela, as seguradoras em operação no Brasil passam por um momento muito interessante, com a redefinição do mercado, em termos de atuação e players. As grandes seguradoras deixam de lados os grandes seguros empresariais para focarem seus canais de venda no varejo, incluídas as empresas de porte médio e pequenas, veículos, residências, vida, previdência complementar, saúde e capitalização.

Em função da necessidade de especialização, capital, contratos de resseguros e dos programas mundiais dos grandes conglomerados empresariais, as seguradoras de capital estrangeiro estão ocupando esse nicho e se consolidando como parceiras também das empresas brasileiras.

Cada vez mais são elas que dão as cartas nos seguros de grande porte ou com desenhos sofisticados, como os seguros de responsabilidade civil, garantias e crédito. Além disso, algumas estão investindo pesado em vida e acidentes pessoais, aquecendo a concorrência, o que já é sentido pelo mercado, que se vale dos efeitos benéficos, com avanços importantes, como as apólices conhecidas por “universal life”, que devem começar a ser comercializadas em pouco tempo.

Entre secos e molhados, para o segurado é indiferente quem é o acionista de sua seguradora. O que ele quer é um seguro eficiente por um preço justo. Assim, a maior participação de seguradoras estrangeiras deve ser vista como um fator positivo, não apenas depois da crise, mas desde já.

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