Mais mundaças climáticas
Originalmente publicado no jornal Sindseg SP.
por Antonio Penteado Mendonça
Pra quem achava que as mudanças climáticas eram exclusividade do Brasil, a ONU acaba de mostrar um mapa muito mais complicado, envolvendo praticamente o mundo inteiro. De acordo com o relatório, secas, inundações, tempestades, nevascas, tufões, ciclones, furacões, etc. devem aumentar de frequência e intensidade.
Além disso, em função da elevação do nível do mar e do fato de boa parte da humanidade viver perto da costa, milhões de pessoas serão diretamente afetadas e sofrerão prejuízos até agora inimagináveis.
O que aconteceu em 2013 e o que vai acontecendo em 2014 não deixa dúvidas sobre o relatório da ONU. Há um aumento nítido dos prejuízos decorrentes destes eventos em todas as partes do globo. Como parcela destas perdas está segurada, as seguradoras estão pagando mais indenizações, o que tem como consequência lógica, ao longo do tempo, o aumento do preço do seguro.
As seguradoras costumam fazer os acertos de prêmio apenas nas carteiras onde há o desequilíbrio. Afinal, em princípio, não há razão para uma carteira com bom resultado sofrer correção de preço. Normalmente esta política é suficiente para reequilibrar seus resultados, mas, ao que tudo indica, a nova realidade dos eventos de origem climática pode mudar a antiga regra.
Como estes prejuízos podem atingir a casa das centenas de bilhões de dólares, não há como fazer os reajustes necessários apenas nestes seguros. O resultado é a quase certeza do aumento do preço de todos os tipos de seguros ao longo dos próximos anos.
E este aumento será global e atingirá todo o mercado segurador indistintamente, tanto fazendo a sinistralidade local. Isso quer dizer, por exemplo, que o Brasil, que praticamente não gera indenizações de seguros patrimoniais decorrentes de fenômenos climáticos, acabará pagando mais caro porque Europa, Estados Unidos e Japão estão custando mais caro para as seguradoras, em função do aumento da frequência e intensidade dos fenômenos de origem climática que se abatem sobre eles.
Além do aumento do preço de todas as modalidades de seguros, o aumento das indenizações decorrentes de catástrofes de origem climática terá outro impacto negativo: a diminuição da oferta de garantia de seguro para uma série de riscos atualmente seguráveis.
Já existem lugares, mesmo nos países mais desenvolvidos, onde estes seguros são comuns, que não encontram cobertura para a ocorrência de determinados tipos de eventos. É o caso de certas regiões dos Estados Unidos que não têm cobertura para furacões.
Com o aumento da intensidade e da incidência dos diversos tipos de danos e, consequentemente, o aumento significativo das indenizações, outros locais e outros riscos poderão ficar sem garantia de seguros.
Neste cenário negativo a notícia boa é que o Brasil deve passar a ter garantias modernas para boa parte dos riscos de origem climática que assolam o país. Como tudo no mundo, a operação de seguro depende da oferta e da procura. Não adianta as seguradoras não oferecerem estes produtos em seus pacotes de cobertura se é eles que fazem a diferença e que movem os segurados a procurar suas apólices.
Atualmente, os pacotes residenciais e empresariais oferecem garantias para alguns dos eventos que atingem o país. Mas em sua maioria as garantias das apólices são velhas, o que vale dizer que nem sempre as coberturas são satisfatórias na hora de necessidade.
A necessidade de atender o público consumidor fará com que clausulados semelhantes aos dos países ricos sejam adotados por aqui, além do que riscos como as enchentes, que hoje não encontram proteção, passarão a ser segurados.
Na medida em que, de uma forma ou de outra, em função dos desastres climáticos, os seguros custarão mais caro, para o Brasil isso não deixa de ser um bom negócio. Ainda que o país não sendo habituado a contratar seguros, as novas garantias para proteger o novo cenário estarão disponíveis.
Voltar à listagem