Inflação baixa
Originalmente publicado no jornal O Estado de S.Paulo.
por Antonio Penteado Mendonça
Ninguém torce contra. Ou quase. Mas a imensa maioria dos habitantes do planeta é favorável a uma inflação bem baixa. Ser contra é remar na direção do abismo, do empobrecimento dos mais pobres, da quebra dos parâmetros que garantem estabilidade aos negócios, ao funcionamento da sociedade e a capacidade de desenvolvimento social.
Inflação alta pode dar a sensação de riqueza porque os juros são altos e a remuneração dos investimentos impressiona. Mas abatendo da taxa nominal a inflação do período, normalmente, o que sobra é pouco e a contrapartida é a corrosão do valor de compra da moeda, com tudo de difícil que vem atrelado a ela. Estagnação, recessão, desemprego, quebra de empresas, destruição da poupança interna, etc. O rol é quase que interminável e não tem notícia boa para compensar a longa relação de situações ruins ou negativas.
O Brasil está começando a colocar a cabeça de fora, depois de um susto sem tamanho, que resultou na maior crise de nossa história, provocado pela soma da incompetência, demagogia, corrupção e visão torta do mundo aplicada ao dia a dia da nação por mais de 10 anos de governo petista.
O preço pago foi absurdamente alto, com o detalhe de que a incompetência custou muito mais caro do que a corrupção. Só o estrago resultante do controle artificial do preço da gasolina, tanto para a Petrobrás, como para a indústria sucroalcooleira, deixa no chinelo o que a operação Lava Jato apurou até agora.
A crise moral que assola a vida da nação está longe do final, com os exemplos mais claros no mundo da política, mas com situações tão graves quanto eles pipocando no universo empresarial privado.
O curioso é que apesar dos desmandos cometidos por atores de todos as entidades e instâncias envolvidas nos escândalos e suas apurações, a economia está dando sinais de recuperação. E o dado mais positivo é que a inflação deve fechar o ano na casa dos 3%, algo que não se via faz muito tempo. O resultado direto disso é a queda dos juros básicos para patamares abaixo de 10% (hoje está abaixo de 9%) o que também não se via há muito tempo.
Saímos da crise? Vamos entrar numa maré virtuosa? Pode ser que sim. Os sinais são bons, os dados consistentes, mas a retomada da capacidade de desenvolvimento social não vai acontecer do dia para a noite, nem em ritmo de “milagre brasileiro”. As coisas tendem a evoluir bem, mas devagar.
O grande marco da inflação baixa é a manutenção do valor da moeda, o que quer dizer a preservação da capacidade de compra das famílias, garantindo um padrão de vida minimamente descente para grande parte da população.
Com inflação baixa é possível planejar, comprar a prazo, poupar, investir, enfim, tomar as decisões necessárias a melhorar o nível de vida e o padrão social do cidadão. Isso gera o aquecimento da economia e, consequentemente, empregos, novas empresas, novos negócios, mais dinheiro em circulação, mais impostos e, no final, o desenvolvimento consistente do país.
Não tem como não aplaudir a inflação baixa e a queda dos juros. Todos são beneficiados, ainda mais quando a economia é modernizada pelas reformas trabalhistas, da previdência social e, em breve, tributária e política, essenciais para criar as condições necessárias para o Brasil deixar de lado as tolices ideológicas que o amarram ao passado e entrar no mundo desenvolvido de uma vez por todas.
O setor de seguros aplaude a nova realidade. Mas, no curto prazo, para ele, a queda da inflação pode complicar a vida de algumas seguradoras. Com a crise, os negócios sofreram retração, as margens ficaram mais apertadas e a concorrência e a situação social impedem os reajustes dos preços das apólices. Uma forma de minimizar o resultado negativo do próprio negócio era a aplicação do dinheiro dos prêmios no mercado financeiro. Os juros altos compensam o resultado industrial e a seguradora fecha o balanço no azul. Com a queda dos juros isto deixa de acontecer e como a retomada da economia ainda demora, elas precisarão cautela e competência para não perder dinheiro.
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