Era de incertezas e oportunidades
Originalmente publicado no jornal SindSeg SP.
por Antonio Penteado Mendonça
Neste momento, a única certeza é que a terra continuará girando em torno do seu eixo e em torno do sol e que por isso teremos dia e noite e as estações do ano, não necessariamente com o formato que tiveram nas últimas décadas. O mais são incertezas. Incertezas velhas e incertezas novas, estas capazes de causarem danos inquantificáveis, pelo menos dentro dos padrões atuais.
O mote da vez é a pandemia do coronavírus e seu custo para a humanidade, em vidas, custos médico-hospitalares, patrimônios afetados, lucros cessantes e responsabilidade de todas as ordens.
Na base está o empobrecimento das sociedades, a queda do PIB de quase todos os países, a retração econômica e o fechamento das fronteiras nacionais, reduzindo drasticamente a globalização que se acentuava ao redor do mundo e, com ela, o comércio internacional.
É difícil calcular o custo total da pandemia, mas, de acordo com análises feitas por institutos sérios, as seguradoras já assumiram responsabilidades na casa dos vinte bilhões de dólares em função do coronavírus. Como a pandemia está longe do fim e a maioria dos custos não são segurados, é fácil imaginar que os prejuízos e despesas deverão atingir facilmente a casa dos cem bilhões de dólares.
De outro lado, é a primeira vez na história que a vida do ser humano vale mais do que a economia. As emissões de moeda, o uso de reservas estratégicas, os investimentos de todos os tipos feitos no combate ao vírus, pela primeira vez na história da humanidade, unem as nações, relegando a economia para segundo plano, em nome da preservação da vida.
Isto é maravilhoso, mas abre todo um novo leque de incertezas quanto aos comportamentos sociais e ao surgimento de uma nova moral, cujos impactos ainda não podem ser dimensionados.
No campo das mudanças climáticas, os valores envolvidos já atingem trilhões de dólares e podem crescer substancialmente ao longo dos próximos anos. O aumento da frequência e da severidade dos eventos se acentua a cada nova estação e ele cobrará seu preço, como sempre, de forma inversamente proporcional à riqueza de cada nação.
Os mais afetados serão os mais pobres, não apenas porque estão menos preparados fisicamente para fazer frente aos cataclismas, mas também porque, além de terem menos recursos para enfrentar os prejuízos, raramente contratam seguros na quantidade necessária para minimizar as perdas de forma socialmente significativa.
Os avanços tecnológicos devem continuar mudando a realidade da humanidade de forma cada vez mais rápida e com custos mais elevados. Quando se vê que os carros modernos não possuem mais tocadores de CD, fica fácil entender a velocidade do processo e as possibilidades à frente: carros elétricos, veículos autônomos, aviões supersônicos, energia limpa, inteligência artificial e o mais que a ficção científica não conseguiu imaginar e que, hoje, já estão logo ali, no horizonte do ano que vem.
É um cenário impressionante, desafiador e que abre toda sorte de possibilidades para todos os setores econômicos. Entre eles, o setor de seguros tem diante de si uma oportunidade única para aprimorar o que já vem sendo feito e criar um número inédito de novas soluções para as situações já existentes, começando a existir e que ainda não foram quantificadas porque nunca aconteceram.
Os riscos atuais não são os riscos de vinte anos atrás. Não porque tenham mudado de forma, mas porque mudaram a ordem de grandeza, a severidade dos danos e os recursos envolvidos.
As seguradoras e resseguradoras estão debruçadas diante do novo cenário já faz alguns anos. Não se pode dizer que serão pegas de surpresa, ao contrário, estão entre as maiores financiadoras de pesquisas sobre o amanhã e isto lhes dá uma bagagem de dados importantíssima para simularem situações, criarem novos produtos e, principalmente, desenvolverem ações destinadas a minimizar os danos.
Se o momento é de crise e mesmo crítico para importante parcela da humanidade, é também desafiador e oferece oportunidades inéditas para quem se propuser a entrar no jogo de forma profissional, cientificamente embasado e aparelhado para fazer frente ao que vem por aí.
Voltar à listagem