É hora de rever o rumo
Originalmente publicado no jornal O Estado de S.Paulo.
por Antonio Penteado Mendonça
Independentemente da crise que assola o Brasil e que insiste em não ir embora, o mundo passa por transformações importantes que não podem ficar fora do radar dos executivos. Seguro não é exceção. Os administradores das empresas do setor e os corretores de seguros precisam estar antenados. Não há mais espaço para achar que como era antigamente continuará valendo por muito tempo. Não vai acontecer. As mudanças são radicais demais e atingem todo o planeta, numa velocidade inimaginável poucos anos atrás.
A globalização é mais do que real. É avassaladora. Tentar ir contra é o mesmo que imaginar que se para um caminhão betoneira na banguela com uma pisadinha no breque. Muito do que está acontecendo é inédito. Não que não tenha acontecido na história do planeta, mas é novo na história do homem. E os impactos diretos são tremendos. A ordem de grandeza envolvida nos diferentes riscos que vão se impondo atinge os trilhões de dólares. E se espalha por uma enorme teia composta por fatores que vão desde o aumento da expectativa de vida até novos eventos catastróficos, decorrentes das mudanças climáticas, como furacões e tornados no Brasil, incêndios florestais na Europa, etc.
Além deles, as incertezas políticas não acontecem apenas porque alguns malucos comandam a Coréia do Norte ou a Venezuela. A situação é muito mais grave quando se vê o que Donald Trump está fazendo com os Estados Unidos, para ficar apenas na nação mais poderosa do planeta.
A ameaça cibernética deixou de ser ameaça para se transformar numa arma de chantagem, com bloqueios de redes substituindo os antigos piratas, mas visando exatamente a mesma coisa: o resgate, um pagamento para que o sistema volte a operar.
No Brasil, enquanto o universo da imprensa é sacudido o dia inteiro por novos escândalos, novas denúncias, novas manobras, nem sempre éticas ou corretas, para não dizer invariavelmente tendentes a apresentar os fatos sob óticas nem sempre focadas no interesse nacional, outros fenômenos que merecem nossa atenção vão acontecendo e afetando a vida de milhões de pessoas, sempre para pior.
As chuvas fora de época que inundam o sul e o sudeste causam prejuízos milionários. A seca que corre solta há anos no nordeste encarece a conta de energia. Os atrasos e superfaturamentos na maioria das obras públicas aumenta a conta do custo Brasil. As estradas em estado lastimável comprometem o escoamento da safra agrícola.
A recessão criada pela incompetência, corrupção e visão míope da maioria de nossos homens públicos derrubou a capacidade industrial da nação. Arrebentou com milhares de empresas de todos os ramos. Inviabilizou o setor imobiliário. Jogou a nação na maior crise moral de sua história.
Não é verdade que o Congresso Nacional é algo diferente. Os deputados e senadores são um retrato da sociedade. E o mesmo vale para os magistrados, promotores e procuradores. Eles não são E.T.’s caídos do céu. Ao contrário, são fruto da mesma árvore que nos obriga a ter um ensino deficiente, uma saúde precária e uma das piores seguranças públicas do mundo.
É neste cenário que os executivos do setor de seguros precisam navegar. Mas se o quadro é ruim para quem vive de analisar riscos e vender seguros, há um outro lado muito interessante. É verdade, nas crises é possível encontrar caminhos novos, oportunidades, etc. Mas é possível ir ainda muito mais longe.
Num momento como este, onde uma série de fatores humanos e naturais modifica completamente a cara do mundo, é possível se reposicionar. É possível se reinventar. Redesenhar o negócio. Definir novos objetos. Implantar novos valores. Repensar a forma de atuação em todos os níveis.
Agora não tem como acelerar as turbinas. A economia não oferece campo para ações desta natureza. Mas, para quem tem capacidade de análise, o momento é perfeito para definir o que fazer depois da crise. Não dá mais para continuar com os seguros de hoje. Mas o que oferecer no seu lugar? Esta resposta não pode ser adiada.
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