De novo o clima
Originalmente publicado no jornal SindSeg SP.
por Antonio Penteado Mendonça
Em pleno inverno, quando as temperaturas, pelo menos no sul e no sudeste, deveriam estar mais baixas, vivemos dias com a temperatura se aproximando dos 40 graus célsius. É um recorde. E estamos falando dos últimos 80 anos.
Esta semana as temperaturas atingiram patamares inéditos para a época do ano em grande parte do território nacional. E, para agravar o quadro, a umidade relativa do ar atingiu níveis próximos aos de um deserto em uma extensa área, especialmente nos estados centrais. A razão para isso é uma longa estiagem, que tem Brasília como bom exemplo. Lá não chove em níveis mínimos há mais de dois meses.
É um quadro complicado, que tende a ficar mais complexo nos próximos meses, quando as tempestades devem voltar ao longo dos meses de verão, quando tradicionalmente o Brasil é assolado por intensos eventos que causam danos de todos os tipos, desde chuva até ventanias, tornados e ciclones.
Estamos vivendo o velho ditado que diz que “se ficar o bicho come, se correr o bicho pega”. O presente é preocupante e o futuro também. Os custos diretos e indiretos já estão altos por conta do quadro atual e irão aumentar, com impacto direto na vida das pessoas, nos custos do SUS, na previdência social e no desempenho da sociedade.
Operacionalmente, para as seguradoras, esta situação não impacta fortemente as carteiras que estariam garantindo a maioria dos eventos de origem climática. Os seguros para esses riscos são pouco contratados.
Só que nem todos os prejuízos são decorrência direta dos grandes cataclismas. Uma boa parte das indenizações é gerada pela rotina, pelo dia a dia das pessoas, e se reflete no aumento das doenças respiratórias, no aumento de infartos decorrentes do esforço extremo por causa do calor, em doenças de pele, de olhos etc., para ficar apenas nos planos de saúde privados.
Alargando o espectro, a estiagem com calor extremo significa o aumento dos incêndios florestais, a sobrecarga do sistema elétrico, a redução dos volumes de água nos reservatórios, danos aos rebanhos e às lavouras etc.
Como em breve entra a temporada das tempestades de verão que assolam uma parte do país, enquanto na outra o cenário seco segue firme, os prejuízos de forma geral devem aumentar e, mais uma vez é importante ressaltar, boa parte dos danos prováveis de acontecer não tem qualquer tipo de proteção de seguro, a sociedade ficará exposta aos danos diretos e com poucos recursos para reconstruir o afetado.
É um quadro conhecido e que tem o grande exemplo nos eventos dramáticos que atingiram a região serrana do Rio de Janeiro mais de uma década atrás. Até hoje o poder público não ressarciu todos os prejuízos, nem reconstruiu parte das áreas atingidas.
No último verão, as chuvas devastaram um trecho do litoral norte paulista e não há nada que garanta que o fenômeno não irá se repetir. É verdade, o governo estadual tomou uma série de medidas para minimizar os danos, mas, se outra tempestade da magnitude da do ano passado se abater sobre Ubatuba, São Sebastião, Bertioga e região, os estragos serão novamente dramáticos. E, mais uma vez, as seguradoras praticamente não serão afetadas pelos prejuízos de milhares de pessoas.
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