Crise e sinistro
Originalmente publicado no jornal O Estado de S.Paulo
por Antonio Penteado Mendonça
De acordo com amigos bem informados, este ano e 2016 serão terríveis para a economia brasileira. O país está à deriva, falta liderança interna, a imagem está comprometida no exterior, não há recursos para investimentos, o desemprego começa a mostrar a cara, os juros estão escorchantes, o crédito sumiu, os escândalos seguem em frente, não há notícia boa, capaz de restabelecer a confiança que o país necessita para começar a mudar de rumo.
Este cenário é ruim para todos, ou quase todos. Com o dólar valorizado, algumas atividades começam a se tornar competitivas, não pela redução de custos, mas porque a desvalorização do real torna os produtos importados mais caros do que os nacionais.
Também alguns setores que estavam empacados, sem saber como se portar numa economia globalizada, com a desvalorização do real, começam a pensar em voltar ao mercado internacional porque voltaram a ser competitivos.
É verdade que apenas o preço baixo não será suficiente para recolocar os produtos brasileiros nas prateleiras. Sem investimentos pesados na pós-venda, poderemos vender uma vez, mas não conseguiremos manter o mercado se não oferecermos assistência técnica, manutenção e reposição de peças.
Graças a eles, entre os mortos e feridos que começam a pipocar em todo o território nacional, há quem consiga crescer, minimizando o impacto dramático que a atual crise representa.
Quem não atentou para ela pode estar imaginando que não será pior do que foram os anos de hiperinflação, mas não é verdade. A crise atual pode ser bem mais danosa do que aquela. No passado, a economia estava desarranjada, mas a nação tinha valores, regras e pessoas capazes de manter o rumo, independentemente da tempestade econômica.
Hoje, além da complexidade das relações socioeconômicas ser bem maior, o Brasil está mergulhado numa crise de confiança, com a economia desarranjada, sem padrões éticos, base moral ou líderes para enfrentar as turbulências.
Não existe mágica. Quando a propaganda enganosa do Governo não conseguir mais tapar a sua incompetência, o barco vai fazer água mais rapidamente ainda. Ao que parece, o Governo ainda não atentou para isso, ou porque não está vendo, ou porque está fingindo que não vê e imagina que, enfiando a cabeça na areia, depois que a chuva passar, ficará tudo bem.
Mas isso não acontecerá. A crise irá se agravar em todos os campos, inclusive no político e aí o Supremo Tribunal Federal terá papel fundamental na manutenção da democracia brasileira. O STF simplesmente não pode errar. Não pode errar na avaliação do momento e nas medidas legais aplicáveis. Se isso não acontecer, a Justiça ficará desmoralizada, com custos inimagináveis para o país.
Este cenário afeta diretamente o setor de seguros. Com a crise, a sinistralidade deve subir. Não apenas nos seguros de veículos, onde ela já ronda patamares inacreditáveis, mas em todas as carteiras.
Crise significa faturamento menor, o que leva ao relaxamento das medidas de manutenção e, consequentemente, a um maior número de acidentes.
Significa desemprego, o que leva a uma antecipação do uso dos planos de saúde, pelo medo de ficar sem na hora em que precisar. Significa o aumento da inadimplência e dos sinistros na garantia de desemprego temporário nas apólices de seguros prestamistas. Significa o aumento de fraudes para tentar receber indenizações que não são devidas. E o aumento indiscriminado da violência.
Significa ainda o aumento dos casos envolvendo seguros de vida, quer pelo aumento das mortes decorrentes do stress, quer pelo aumento do número de suicídios e tentativas de suicídio.
Não há nada que alguém, isoladamente, possa fazer para modificar o cenário, mas, mais do que nunca, a participação de cada um é fundamental para o país reencontrar seu rumo, estancar a bandalheira e reverter a sangria moral que corrói as forças produtivas da nação.
Se cada um fizer sua parte, temos uma chance de sair do buraco mais rapidamente, o que, entre outras vantagens, significa pagar seguros mais baratos.
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